quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Pensa neles, só uma vez (...)

Antes de pensares em ti, pensa nele. Olha para ele como um exemplo daquilo que se passa à tua volta, mas que tu não tens sequer vontade de saber. Pensa nele como um exemplo daquilo que tu não passaste. Tu dizes que tens fome, mas já pensaste bem no significado dessa palavra? Talvez não. Tu tens fome, vais ao armário e tens lá bolachas, fruta, comida à tua espera, para te satisfazer. Mas já pensaste, alguma vez, que por aí existe alguém que não tem nem um pedaço de pão para comer? Já pensaste sequer que no preciso momento em que tu disseste ‘tenho fome’, outros milhares fizeram o mesmo? Mas sabes, a diferença é que tu, levantaste do sofá e vais comer enquanto que dois terços daqueles que disseram o mesmo que tu, continuam e dize-lo e a dize-lo, esperando algo que o sacie daquela fome (…) Tu reclamas porque no Natal não te deram aqueles ténis Nike que querias, mas não páras para pensar nas outras milhentas coisas que recebeste e que existe por aí alguém que caminha descalço, sobre o chão nu, sujo de vidros, pedaços de natureza, pedras e outras coisas, com os pés lacados em feridas. Tu chegas ao Inverno e dizes que tens frio porque só vestiste 3 camisolas, no entanto existe por aí alguém que entrou em hipotermia simplesmente por só vestir um fato sujo e gasto pelo tempo. Tu olhas para o teu armário e ficas frustrado/a por não teres nada quando ele está cheio até a cima, e no entanto existe por aí mil e uma pessoas que não têm nadapara cobrir o corpo, apenas restos de tecido, esfarrapados. Pensa, antes de dizeres ‘eu não tenho’, porque existe gente que tem bem menos que tu e vive. Pensa, antes de dizeres ‘eu quero morrer!’, pois existe gente que luta contra a morte, luta por viver, por continuar a respirar, luta por continuar a sentir os ar a entrar nos pulmões. Pensa, sempre que dizes que a tua vida não presta, porque o teu grande amor te deixou, existe gente que nem pais tem e vive lutando, por ser normal, por ter uma vida normal, por sobreviver neste mundo em que o ‘eu’ vem antes dos outros. Achas-te lutador? Então abre a internet e uma vez não vás só a sites banais, vê a quantidade de pessoas que lutaram por continuar neste mundo, que não desistiram de viver, que lutaram não por um amor mas sim por uma oportunidade de continuar com o sangue a correr nas veias. Se te achas forte, então pensa naqueles que viram a família a morrer e nada puderam fazer para evitar isso, a quantidade de pessoas que vivem em condições deploráveis, sem as mínimas condições de higiene, a dormir ao lado de bactérias e insetos, contagiadas por doenças às quais não podem lutar porque não têm os medicamentos necessários. Antes de tudo, olha para a tua volta e pensa no quão és sortudo/a por teres uma casa que não está a cair, por não dormir num pedaço de cartão, por te poderes levantar e beber um simples copo de água.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O nosso mundo

Nós podemos ser o mundo, podemos ser os mais felizes, os mais sortudos, os mais sonhadores. Podemos construir o nosso próprio lugar, tijolo a seguir a tijolo, cimento após cimento, derrocada após derrocada, juntando todas a peças dum puzzle perfeito, sem erros nem falhas. Podemos passar uma vida a construir um mundo, o nosso mundo, aquele lugar com que sempre sonhámos, onde nada nem ninguém nos ataca, onde o sol brilha todos os dias, sendo substituído à noite pela lua reluzente e pelas estrelas que brilham no escuro céu. Podemos fazer de tudo para que nada caia, para que tudo continue de pé, para que as derrocadas sejam as mínimas possíveis. Podemos entregar-nos de corpo e alma a esta construção, dando o que temos e o que não temos, o possível e o impossível. E, depois de termos lutado para que o nosso mundo estivesse pronto, tudo pode desaparecer de um dia para o outro, pode chegar um tornado que nos afugenta quem preservámos a nosso lado, podemos ver as nossas maiores construções a cair, uma por uma, graças a esse tornado que assolou o nosso mundo, o nosso lugar protegido, arruinando as nossas defesas e protecções, acabando com projectos que demoraram uma vida a construir. E depois disso tudo acontecer? Depois de nada sobrar para além de pó, fumo e pedaços das nossa construção? Temos duas hipóteses. Ou fugimos para o mundo de alguém, esquecendo tudo o que sempre desejámos e planeámos, esquecendo todo o esforço e dedicação que demos no nosso mundo, ‘hibernando’ no mundo mais próximo, protegidos pelas defesas que provém de um outro alguém, baixando as nossas próprias protecções, passando a viver sobre as regras de outra pessoa, ignorando tudo o que aprendemos, tudo o que acreditamos, seguindo alguém que pode ou não aceitar-nos como somos. Ou então podemos começar do zero, voltamos atrás para juntar as peças que ficaram espalhadas pelo solo, sobrepondo tijolos, blocos de pedra, acartando com sacos de cimento, desviando obstáculos. Talhando tudo e qualquer objecto, falando com aqueles que em tempos faziam parte do nosso lugar, desenvolvendo as nossas defesas. Podemos fugir para um outro mundo, ou podemos ficar no nosso e sermos nós próprios, seguir as nossas regras, agir da nossa maneira, andar como nós caminhamos, sem reis, sem patrões ou chefes, apenas nós e quem mais amamos, juntos num mundo. No nosso mundo. E no fim veremos que valeu a pena as noites passadas em claro, os dias passados a trabalhar, as mentes a planear detalhadamente o próximo passo, a próxima investida. No final, iremos olhar em nosso redor e dizer com um orgulho interminável: este é o nosso mundo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Um dia tudo acaba

Um dia tudo acaba. Um dia tudo mudará, tudo se transformará, tudo deixará de ser igual. Um dia as pessoas entenderão o que realmente fazem, tudo se curará, tudo passará a ser como realmente queremos, um dia nada será igual ao que era anteriormente. Um dia, um dia, um dia… Para quê tantos planos? Sinceramente, já não sei se algum destes dias vai chegar se é que o destino o planeou para nós, talvez chegue mesmo, mas nesse momento talvez o meu corpo esteja cansado, talvez a minha mente já não queira mais nada para além de entrar num profundo sonho sem fim. Não sei, o amanhã é incerto demais para fazermos previsões, para fazermos planos. Mas sabes? Já nada disto tem importância, quando o presente está no ponto em que está, tudo deixa de ter importância e a única coisa real, a única coisa que existe é a nossa dor e o nosso sofrimento e tudo o resto deixa de existir, tudo o resto deixa de se estar presente, pois quando o presente é assim, cruel e frio, quando as pessoas que julgávamos conhecer se revelam o que realmente são, tudo deixa de fazer sentido, a mente tolda-se e não nos permite continuar. Se ficamos assim com uma pessoa, como ficaremos com duas, três, quatro? Honestamente, não tenho resposta mas pronto, é assim a vida, é assim que tudo funciona e nós só temos de, pelo menos, tentar entender. Desejar o impossível? Todos desejamos, mas que é isso de impossível? Que significa essa palavra que tanta vez oiço? Nada é impossível, desde que lutemos por isso, desde que realmente desejemos, podemos alcançar todo e qualquer objectivo. Se custa? Sim custa, passamos por muito até termos o que realmente queremos mas é nesse caminho que aprendemos a dar valor que o nosso objectivo realmente merece, é ao lutar que entendemos o quanto precisamos disso, é assim que aprendemos a cair, a levantar e a lutar.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Haverá um dia (...)

Haverá um dia em que nada será certo, um dia em que tudo passará a ser incerto, em que as certezas serão escassas, em que tudo mudará, em que nada será igual, em que o nosso mundo deixará de brilhar, em que o nosso sol esconder-se-á debaixo de um manto de nuvens. Haverá um dia em que tudo irá partir para dar lugar a uma grande incerteza, um dia em que já não haverá esperanças, um dia em que iremos entender que já não vale de nada lutar, chegará um dia em que a força acabará, um dia em que já nada importará pois a dor sobrepor-se-á a todo e qualquer facto, em que o sofrimento consumirá qualquer réstia de felicidade que habita em nós. E nesse dia iremos assumir os erros que deixámos escapar no passado, iremos dar valor àqueles que perdemos, iremos dar significado ao que tivemos e não aproveitámos. Mas a verdade é que esse dia está longe, a verdade é que ainda teremos muito que percorrer antes que ele chegue, ainda existe muito ar para nos entrar nos pulmões, ainda temos muitas quedas para dar, muitas gargalhadas para soltar, muitas parvoíces para fazer, muita coisa para viver antes de chegarmos a esse dia. Sim, custa, dói, sofremos, sentimos vontade de fugir, de desaparecer, mas não podemos fazer isso, temos de ser fortes, temos de conseguir ultrapassar as grandes ‘rochas’ que se põe no nosso caminho e nunca, mas nunca, baixar os braços. Existir é fácil, mas só os lutadores vivem realmente, só eles conseguem alcançar o posto chamado ‘vida’. E sabes porquê? Porque são eles, os lutadores, que lutam pela felicidade, são eles que lutam pela liberdade de poder voar pelos maiores céus ou nadar nas mais profundas águas, são eles que fazem com que valha a pena o sangue correr-nos nas veias, são eles que dão um novo significado à palavra ‘vida’. São eles que fazem com que andar neste mundo passe a ser a coisa mais bela que existe, são eles que fazem com que enfrentar o dia-a-dia se torne mais fácil, são eles, esses lutadores caminhando mundo fora, que têm capacidade de explorar todos os cantos do mundo, do ‘nosso’ mundo. E agora, diz-me, denominas-te lutador? Lutas pela tua felicidade, como nunca antes lutaste? Enfrentas os diversos obstáculos que existem no teu caminho com a cabeça erguida? Se sim, então parabéns. Se não, então vais a tempo de o fazer, pois somos jovens, ainda vamos aprender imenso, ainda vamos crescer, mudar. Por mais que digamos, somos novos, temos uma vida pela frente e um caminho para percorrer.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Escrever (...)

Mais uma vez venho fazer o que tanta vez já fiz no passado: desabafar, ser ouvida pelas palavras que ao longo do tempo vão formando a minha vida, a minha história. Mais uma vez venho em busca daquele conforto que me é transmitido dia-a-dia pelas letras, quando as faço formar as mais diversas palavras. Pergunto-me se algum dia me irei fartar disto, de escrever como se não houvesse amanhã? Provavelmente não, sinto-me demasiado dependente destes pequenos mas preciosos momentos. Escrever não é o que muitos julgam ser, escrever não é só “teclar”, mas sim formar uma história, uma história daquilo que somos e daquilo que acreditamos, daquilo que sentimentos e vivemos dentro de nós e no mundo que está lá fora, lá fora do meu quarto, lá fora da minha casa, lá fora deste pais, por essa estrada fora que nos conduz a mais cidades, a mais vilas, a mais aldeias. Escrever já não é um simples hobby, mas sim um vício, na qual estou presa sem saída possível. Passo o dia a pensar no que escrever quando tiver oportunidade, ponho o cérebro a trabalhar furiosamente para encontrar o necessário à compreensão dos meus sentimentos para que consiga transpor o que me vai na mente e na alma no papel, numa folha vazia, em branco, à espera que me decida por onde começar, à espera que inicie mais um de muitos outros textos que tenho arquivados, mais um de muitos conjuntos de palavras, frases que transportam a minha dor, o meu sofrimento conseguindo deste modo diminuir um pouco o que sinto em mim, fazendo com que deste modo, fique um pouco mais aliviada perante o que me corre no meu ser. Escrever é a arte de desenhar com as letras, pois é isso que escrever se trata, nada mais que desenhar com letras e pontuações. Uns transmitem os seus pensamentos, os seus sentimentos, as suas emoções para um jogo, para um desporto, para um objecto, mas eu não. Nada disso me alivia tanto como escrever, como juntar letra após letra, palavra após palavra, frase após frase, para depois, no final desta construção, deste desenho, ler tudo do inicio ao fim, para depois rever o que fui criando e, quando acho necessário, acrescentando um ou outro parágrafo, ou tirando uma ou outra palavra, emendando erros das escrita, ou mesmo sem o alterando, deixando tudo tal e qual como foi feito, tal e qual como foi construído. É assim que faço nos dias em que nada faço, nos dias em que não há disposição para sair, para falar, só para sentir e escrever (…)

Porque nos ilude a vida?

Porque nos ilude a Vida? Porque nos faz ela ter esperanças sobre as pessoas e depois, destrói os nossos maiores sonhos de um momento para o outro. Não percebo, juro que não. Num momento a Vida faz-nos sorrir, dar as mais parvas gargalhadas ao lado das pessoas que melhor nos querem mas noutro já estamos lavados em lágrimas por ver algo a ir por água abaixo, por sentir as pessoas a escapar-nos por entre os dedos como a areia. Tão depressa estamos calmos, como algo acontece enfurecendo o nosso ser, deixando-nos cegos se raiva. Eu quero saber o porquê. Porque faz ela que nos tom-mos certas decisões quando devo-mos tomar outras, porque nos faz ela acreditar em algo impossível, algo que por mais que tentemos nunca vamos alcançar, alguém me sabe explica o porquê? É que eu, por mais que tente, não percebo, não encontro a resposta a esta pergunta que tantas vezes me assombra a mente. Porque é que ela nos prega tantas rasteiras, deixando-nos arrasados, porque tem ela que ter tantos obstáculos? “Provavelmente porque de outra forma não tinha graça vive-la”, foi o que uma vez ouvi. Acham graça é isso? Eu não. Eu não acho piada nenhuma a ver os outros sofrer. Não acho piada às quedas a que assisto diariamente, na minha vida, não acho piada quando vejo o sorriso fascinante de um amigo, ser transformado numa lágrima dolorosa, não acho piada quando vejo que algo alegre, a explodir de felicidade é transformado em algo destroçado, a explodir de dor. Ela não nos dá permissão para desistir mas depois, no final, acaba com tudo aquilo pelo qual lutámos, põe um fim àquilo que mais amávamos. Mas… Se calhar não é a Vida que acaba com o que criámos, com aquilo pelo qual lutámos. Se calhar são as pessoas e o seu desejo de controlar tudo e todos. Provavelmente é porque as pessoas não sabem como ter calma, não sabem esperar. Se calhar, as pessoas apressam a Vida e depois ela acaba por castiga-las, pondo um fim ao que elas mais desejam. Se calhar estou apenas a escrever este texto para demonstrar a minha ingenuidade, a minha falta de experiÊncia de vida, se calhar, se calhar, se calhar … A Vida é feita disso, de “talvezes”, de “provavelmentes”, de “se calhares”. E nós? Apenas a podemos perceber, porque por mais injusta e difícil que a vida seja, nós temos de a viver.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Conto de fadas VS Realidade

Era uma vez um conto de fadas, na qual tu eras o meu príncipe e eu era a tua princesa. Um conto de fadas na qual eu te amava e tu me amavas a mim, na qual o sofrimento era substituído pela alegria, na qual ‘dor’ era palavra proibida. Era uma vez um conto de fadas na qual o sol brilhava todos os dias, na qual quando acordávamos ouvimos o cantar dos pequenos pássaros, na qual o calor aquecia o nosso corpo, na qual nos sentíamos protegidos, aconchegados por quem mais amava-mos, era uma vez um conta de fadas onde nós reinávamos, onde tu eras o rei e eu a rainha. Um conto de fadas, localizado para lá das montanhas, para lá dos vales em que nada nos impedia de sermos felizes, em que não havia rochas entre nós e o nosso objectivo, em que a mentira não espreitava por de trás de cada poste, em que nada nem ninguém nos atacava, em que quando alguém segurava a nossa mão não a largava, em que quando alguém prometia não nos fazer sofrer, cumpria, em que apenas havia amor e amizade, onde o perdido era encontrado, onde o sempre era cumprido, onde o tempo parava quando nós mais desejávamos, onde o relógio biológico dentro de cada um de nós vive em função do carinho e do amor que nos é dado e que nós damos. É esse conto de fadas que nós todos desejamos, que todos nós queremos viver, um sítio onde tudo é perfeito, onde não há problemas nem conflitos, onde não há guerra por coisas inúteis, um sítio onde todos somos iguais, sem a menor ponta de descriminação ou racismo. Mas a verdade é que esse conto de fadas não existe, a verdade é que ele pertence ao mundo dos sonhos e quando nós regressamos dele? Deparamo-nos com a crueldade que invade as paredes, os muros deste caminho a que muitos chamam ‘Vida’, ao chegar cá fora deparamo-nos com o sofrimento que cada um guarda dentro de si, ouvimos os gritos de dor trazidos pelo vento, sentimos o frio que nos rodeia. A realidade é um sítio onde o tempo é inconstante, onde os obstáculos existem e com grande frequência, onde a toda a hora somos atingidos pela mentira, onde tudo e o nada se perdem rumo a um lugar melhor, rumo ao conto de fadas mas ele, esse lugar melhor, está longe, longe de mim, de nós, dos outros, longe do mundo. E quando eles regressam da sua busca incansável? Vêm gelados, com o sangue a temperaturas negativas, com os batimentos cardíacos mínimos, atordoados pelo que vêm e sentem (…)

Caminho de sombras

Ali estava eu, ali estava a minha pessoa, a caminhar através de uma estrada sombria, a caminhar sob as nuvens mais pesadas, rodeada da neblina mais negra que alguma vez assombrou o mundo, tentando focar através daquela imensa escuridão. Ali estava eu, junto do nada, longe do tudo, deixei para trás os melhores, pois eles não mereciam que eu trocasse a sua felicidade pela minha dor, afastei-me do mundo pois ele tem os seus problemas e não necessita dos meus, para complicar ainda mais o seu dia-a-dia. Esqueci-me que na amizade, quando um sofre, os outros também sofrem, esqueci-me que não era por me afastar do mundo, que ele se ia afastar de mim. Deixei para trás os caminhos alegres, sem me dar conta, entrei nos caminhos mais escuros, mais afastados, sem me dar conta, enverguei num mundo desconhecido, o mundo da dor. Parecia que, a cada passo meu, os meus sentimentos, aqueles que me animavam, aqueles que me faziam sorrir, eram consumidos por aquela visão de nevoeiro, parecia que quanto mais avançava mais eles partiam deixando-me com as piores recordações. Queria voltar para trás, queria sair dali, daquele sofrimento. Queria voltar para aquilo que tinha deixado. Mas não podemos regredir no tempo, não podemos caminhar para trás e a minha cabeça, ela sim queria fazê-lo mas não arranjava argumentos fortes o suficiente para os meus pés obedecerem, então eles seguiam sempre em frente, ignorando que o meu coração estava repleto de feridas, ignorando o que a minha mente dizia, os meus pés avançavam perante aquela densa massa cinzenta mas eu nunca parava. Avançava e avançava até que me apercebi que estava a pensar no porquê. ‘Porque raio estou eu aqui afinal? Porque continuo eu neste sofrimento, porque continua esta dor dentro de mim? Sim, eu amo-o, amo-o no verdadeiro sentido da palavra mas não posso estar assim, não me posso rebaixar ao ponto de esquecer os melhores momentos da mina vida’. Foi com estas palavras, foi com este pensamento, foi com este pretexto que eu sai dali. Não, não andei para trás, apenas ‘evoquei’ a minha felicidade para mim, apenas relembrei os melhores momentos, as melhores gargalhadas, apercebi-me que nunca tinha estado realmente sozinha, não. O meu sofrimento fazia-me ver isso, fazia-me ver o mundo como eu me sentia, vazio, inexpressivo. Mas ele não é assim, o mundo não o lugar negro que muitas vezes nós vimos. Por vezes ele prega rasteira que nos fazem dar as maiores quedas mas nós temos de ser mais forte que elas, as quedas, nós temos de nos levantar. Caminhei, a cada passo meu parecendo mais decidido que o anterior, a cada passo meu o nevoeiro era menos denso a cada passo meu, a cada passo meu as nuvens cinzentas tornavam-se mais brancas com o passar do tempo e acabavam por dispersar, quanto mais avançava mais a minha dor diminuía e quando dei por mim, estava a ouvir o chilrear dos pássaros, quando dei por mim a luz do sol espreitava por entre os ramos das árvores, quando dei por mim tinha voltado a mim, tinha regressado àquilo que tinha deixado para trás, voltei a minha antiga felicidade (…)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Paraiso? O que é isso afinal?

Paraíso? O que é isso afinal? Para uns é um lugar mágico, como nos contos de fadas, daqueles que nos liam em crianças antes de adormecemos, em que existe uma princesa e um príncipe, cavalgando num cavalo branco, empunhando a sua espada para salvar a donzela que foi raptada pela madrasta má que a prendeu numa torre. Para outros, o paraíso é como naquelas histórias, em que os jovens são obrigados a fugir, por terem uma paixão proibida, pois os seus pais são inimigos, e acabam por viver a mais linda história de amor. Para alguns é um sítio com os mais bonitos animais e os maiores castelos, um lugar onde os pássaros cantam ao nascer do sol e à noite ouve-se o ressoar dos grilos, trazido pelos ventos. Enfim, para umas pessoas o paraíso é um simples lugar enfeitiçado, longe da realidade. Para outros é um lugar distante, mais distante que os distantes, onde reinam as trevas, onde os muros dos castelos guardam os gritos de dor e pânico que tantas vezes saiam das masmorras, um sítio onde o medo pesa no ambiente, um sítio onde a liberdade de expressão não existe, onde apenas uma e só uma pessoa pode reinar e os outros apenas obedecer. Outros há, que desenham o seu paraíso como sendo um lugar misterioso, onde cada árvore, cada planta, cada raiz, guarda uma história, a sua história, um lugar infinito, onde podem explorar durante séculos e nunca acabar por descobrir tudo o que é necessário descobrir. Paraíso? O que é isso afinal? Uma espécie de reservatório, onde as pessoas se escondem dos problemas do dia-a-dia? Um lugar mágico ou tenebroso? Distante ou perto? As pessoas complicam a sua definição, complicam o que pode ser o paraíso ideal. Mas eu não. Para mim o paraíso é uma coisa simples, uma coisa fácil de projectar, para mim ele é apenas e só um sítio onde possa fazer a minha vida sem problemas, onde possa gritar quando me apetece faze-lo, um sitio em que possa correr livremente para descarregar energias, um sitio em que possa lutar pelo que quero sem ter alguém a mandar-me constantemente abaixo, um lugar com os melhores do meu lado e isso basta-me.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O mar é fiel

Chego à praia. Estou sozinha. É inverno e está frio, muito mesmo. Mas eu não me importo. Começo a tirar as camisolas, a descalçar as botas e as meias, ficando em biquíni. Um casal de idosos que está a abandonar aquela pequena praia, olha para mim, achando-me maluca, por estar assim vestida, em pleno inverno, quando eles vestem mais casacos do que a minha família toda junta. Sinceramente, pouco me importa o que eles acham. Abandonando as coisas na areia, corro para o vasto oceano, parando à beira mar, molhando apenas os pés. Imediatamente sinto-me calma, como que em paz. O mar é fiel. O mar, quer esteja cheio, quer esteja vazio, está lá sempre, para me ouvir, acalmar, para levar os meus problemas com a maré. Avanço em direcção às ondas e mergulho. Volto à superfície e fico a boiar, olhando o céu. Para uns o mar é medo, para outros um desafio mas para mim, o mar é sítio onde me sinto completa, é onde me sinto bem, feliz. Nele sinto que nada me pode atacar, o meu corpo sente-se protegido dos males e a minha mente dos barulhos da cidade, dos problemas da vida. Aos poucos o meu corpo vai-se habituando à baixa temperatura da água, começando a achá-la quente, reconfortante. Nado mais um bocado até que decido regressar a terra firme. Chegando a ela, deito-me na areia molhada, de barriga para cima e fecho os olhos. Ouço o murmúrio das ondas, escuto os segredos que a Mãe Natureza tem para me confidenciar, os mistérios que aquele lugar guarda, as histórias que recorda. Uma onda maior do que as outras chega até ao sítio onde estou não ralo, pois ela rapidamente volta ao sitio de onde veio.
Um caranguejo sobe pela minha barriga, aninhando-se nela. Não me mexo, gosto daquela sensação, até. Sabe bem saber que algo daquele paraíso gosta do meu ser, algo daquele lugar sente-se protegido ao meu lado. Bom saber que pelo menos ela, aprecia a minha companhia, por mais pequena que ela seja.
Passado instantes, sinto o pequeno a ir embora, ir ter com a família que está lá mais adiante. Finalmente abro os olhos, devagar, fitando o céu, tão cinzento, com pequenos raios do sol tentado passar pelas carregadas nuvens.
Sento-me de joelhos encostados ao peito com os braços a envolve-los. Fixo o mar, tão belo que ele é. Tão calmo. Porque não são as pessoas assim?, é a pergunta que me vem à cabeça. Porque não são elas calmas como o mar? Talvez achem que as confusões são a melhor solução, a única saída dos problemas. Oh, como estão erradas, as pessoas. Deviam aprender mais, com o mar.
Está a ficar tarde, tenho de voltar. Levanto-me e reparo que já estou seca. O tempo passou a voar, mas não importa. Acima de tudo, devemos ter tempo para perder tempo, e o meu é hoje. Sacudindo a areia de mim, começo a caminhar para o lugar onde está a minha roupa. Apenas visto as calças. Provavelmente está frio, mas eu não o sinto. Pelo contrário, sinto uma enorme chama dentro de mim, a aquecer o meu corpo, o meu sangue. Pego na roupa e enfio-a na mala. Viro-me uma última vez para o mar, pondo a mala ao ombro. Sorrio. É bom saber que aconteça o que acontecer ele, o mar, não vai desaparecer, é bom saber que quando estiver mal, posso contar com o mar para me ajudar. Desejava tanto poder ficar ali mais tempo, naquele lugar. Mas não posso, por mais que custe, eu não posso. O meu telemóvel toca, chamando-me à terra. Atendo. É a minha mãe. Asseguro-a que está tudo bem comigo e que já estou a regressar a casa. Desligo e, contra o que o meu coração me diz, volto para o mundo que me espera lá fora.

(...)

E lá fui eu. Lá sai eu de minha cama para me ir juntar a quem mais em ouvia. Saindo quando todos entravam, percorri as ruas, naquele momento, desertas para me encontrar com ninguém. Andei alguns metros, senão mesmo quilómetros. Parei num banco de jardim, tapado por uma árvore enorme e antiga. Subi para o assento do banco, de pé. De seguida, equilibrei-me no encosto para as costas e trepei para um pequeno ramo da árvore, e depois para outro e para outro para depois chegar a um forte e grande ramo. Sentei-me nele. Encostei-me ao tronco da árvore, de joelhos junto ao peito. Fechei os olhos e escutei. Escutei o que ela, a árvore, tinha para me dizer. Então ela segredou-me “Há anos e anos atrás, nesse mesmo ramo onde tu te encontras, sentava-se uma donzela que, para se esconder do seu Marido que tanto lhe batia e massacrava, trepava para mim. E eu acolhia-a assim como estou a fazer agora com o teu ser, dava-lhe o sentimento de protecção que ela mais necessitava para viver” contava a velha árvore, embalando-me naquela brisa que se formava no ar. “Certo dia, o seu marido, desconfiado que ela não cumpria as suas regras, decidiu esconder-se fora de casa e observá-la. E a mulher lá foi, contra as regras do seu homem, ter comigo, naquela altura nada mais do que uma simples árvore, do tamanho das outras.” Os meus olhos começavam a fechar-se lentamente. “Quando o homem descobriu que ela infringia suas regras, ficou furioso. Então a mulher, quando chegou a casa, encontrou o homem, sentado no banco de cinto na mão.” O meu coração deu um pulo ao ouvir esta última frase. De imediato abri os olhos e tornei-me atenta. “A mulher tentou arranjar uma desculpa por ter saído de casa, mas o homem sabia, sabia onde é que ela tinha ido. De imediato o homem dirigiu-se para ela, e começou a esmurrá-la. A pequena nem metade da força do homem tinha, portanto apenas gritou, implorou-lhe para que ele parasse mas ele não o fazia” Os meus olhos encheram-se de lágrimas ao ouvir aquele relato. “A mulher com medo, nunca mais saiu de casa. Então os seus vizinhos achando estranho este comportamento, decidiram juntar-se e ir até casa dela, quando o homem saísse. Meu dito, meu feito, nessa mesma noite, 5 homens bateram à porta de casa dela. A mulher, com medo que o marido descobrisse, nada fez. Mas os homens continuavam a insistir e a insistir e ela, a medo, acabou por abrir a porta. Quando o homem da frente a viu, naquele mísero estado, apenas a abraçou e ela, desabou num choro intenso. Logo houve alguém que lhe perguntou porque estava ela assim e ela, lavada em lágrimas, contou que saia quando o marido ia trabalhar, coisa que ele a tinha proibido e há umas noites tinha descoberto, e para a castigar tinha-lhe feito aquilo.” Eu estava mais atenta do que nunca, queria que o fim chegasse, e depressa. “Mal os homens chegaram a casa, relataram a história contada pela pobre mulher. Ficaram todos chocados, principalmente as mulheres. Acabaram por decidir então que se a mulher não respondia, faziam-no eles por ela. Então, certa noite, quando o homem saiu para trabalhar, foi surpreendido por um bando de pessoas. O que lhe fizeram? Ninguém sabe, mas todos dão a sua opinião. Os homens limitaram-se a levá-lo e depois de horas, traze-lo de volta para a porta de casa. A mulher, quando acordou de manhã, foi até à porta e, ao deparar-se com o homem naquele estado, imaginou-se a si, ali estendida no lugar do homem em vez deste mesmo. Rapidamente lembrou as noites de sofrimento e dor causadas por ele. Sabes o que fez ela?” sussurrou-me a árvore. Abanei com a cabeça, negativamente. “Arrastou para o quarto e deixou-o lá, como ele fazia com ela, deixou-o lá. A mulher? Apenas mudou de casa, fez as malas e foi-se embora.” Logo me perguntei se tinha ela descoberto quem tinham sido os responsáveis. A árvore deve ter escutado a minha pergunta, pois logo acrescentou num sussurro: “Antes de partir, a mulher falou aos homens daquela noite, agradecendo-lhes o facto de a terem libertado, de lhe terem dado forma de viver a vida. Depois, no seu caminho, passou por mim e sentou-se nos meus ramos para, uma última vez, sentir o sentimento de protecção que tantos anos lhe tinha dado. Quanto ao homem? Ninguém sabe se ele sobreviveu ou não mas a verdade é que também ninguém quis saber” No final daquela história os meus olhos estavam banhados em lágrimas.