terça-feira, 17 de abril de 2012

Momentos só meus

Momentos só meus, são quando eu pego na caneta e escrevo. São quando eu vou para longe, para longe da família, dos amigos, do meu quarto, da minha casa, deste mundo. Quando vou para um mundo só meu, um mundo de fantasia, um mundo onde em cada canto, posso encontrar uma marca da minha personalidade, da minha pessoa. São momentos em que sou só eu, momentos em que me encontro, na minha forma mais natural, na minha forma mais pura, simplesmente eu. São os momentos em que me encontro com os meus remorsos, com os meus medos, com os meus mais profundos sonhos, com as minhas escolhas, com as minhas lutas, com as minhas batalhas. São momentos em que me lembro dos tempos idos, desses já bem longe, daqueles que nos põem com a lágrima ao canto do olho, já pronta a cair, com as saudades. São aqueles momentos em que me lembro daquelas pessoas com quem cresci, que fizeram parte da minha infância, parte das minhas brincadeiras, parte das minhs desavenças, e que agora são aqueles para quem olho e penso: sim, eu sinto falta de tudo. São aqueles momentos em que já nem sequer posso lembrar de certas pessoas que fizeram a diferença quando eu era uma criança, mas que agora já nem me consigo lembrar de certas caras. Ou se calhar até nem posso olhar, pois eles já nem estão aqui perto, já se mudaram, e desde a primária que não os vejo. São momentos meus, só meus, quando eu penso 'e amanhã?'. Sim, e amanhã? Como vai ser? São esses momentos que me fazem pensar naquilo que disse àquela certa pessoa, naquilo que sinto/senti por A ou B, na dor que provoquei a C ou como me afestei de D e E. São esses momentos, e esses momentos são assim, são meus, unica e exclusivamente meus. E quem sabe, talvez agora, tenha sido um desses momentos.

domingo, 15 de abril de 2012

Mitos e lendas, histórias e contos

Existem mitos e lendas, histórias e contos. Onde começaram? Por quem? Quando? Ninguém sabe, é um dos imensos mistérios do mundo. Elas perdem-se com o vento, voam para longe com ele, instalam-se em cidades e vilas, pequenas aldeias até. Rondam durante o dia, espreitam por entre as praças cheias de pessoas, seguem por entre as árvores, escutando as suas novidades, misturam-se com as gotas de orvalho, com as gotas da chuva para depois se reflectirem nas poças de água que pisamos. Acrescentam pontos a si mesmas, enquanto o sol jaz bem lá no topo do céu, vão buscar pormenores, a cada canto e recanto, cada casa, cada divisão, cada sitio, crescendo e crescendo, aumentando a cada instante. E à noite, quando a lua ilumina o céu, quando as estrelas espreitam por entre as nuvens, elas aparecem, vem calmas por entre a bruma da escuridão e então começa o desenrolar. As mentes curiosas chegam-se para a frente, os corpos mais gelados aconchegam-se no calor dos que lhes são chegados, embrulhados em cobertores. E então, estas histórias, estas lendas, estes mitos, estes contos que se formam ao longo dos anos, têm inicio. E até quem as conta, quem as revela, aumentam-nas uma pouco, deixam um pedaço do seu ser, da sua personalidade nelas, gravadas com as suas palavras e com os ouvidos cheios desta melodia, cada um acaba por adormecer, rendido ao cansaço de um dia de trabalho. E as lendas? As histórias? Os mitos? Os contos? Apegam-se ao vento e vão com ele, para outra cidade, vila ou aldeia.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Havia um garoto

Havia um garoto, com uma doença. A doença não era muito má. Era escoliose, sabe o que é? É um desvio lateral na coluna. Pois bem, esse menino tinha dores horríveis nas costas. Por vezes, insuportáveis mesmo. Mas ele não se queixava. Doía? Então ele fingia que nada passava e continuava, como se nada fosse. Ele deitava-se à noite e as lágrimas vinham-lhe aos olhos, com a dor. Ele endireitava-se na cadeira e tinha que respirar fundo, como se nada fosse. E havia momentos em que ele só queria chorar e mostrar que também podia ser um pouco fraco. Mas ele não o fazia. E então as notas começaram a baixar. A cada dia que passava, ele resguardava-se cada vez mais no seu próprio mundo. Fica irritável, com minorias básicas. Não era ele. A fisioterapia? Ajudava um pouco, sim. Toda a gente queria que o jovem fosse operado. ‘Era o melhor’ como todos diziam. Mas ele não queria e pensava ‘Há pessoas bem piores que eu, pessoas que precisam mais do meu lugar’. Sabe, esse menino tinha um sonho: ele queria ser médico. Era o que ele mais queria, desde pequenino. E sabe, ele não queria o dinheiro para comprar grandes carros, ou grandes casas. Não. Ele queria uma casa modesta, onde podesse sentir-se confortável. Talvez com uma mini-biblioteca. Isso não era um talvez, era uma certeza. E o que sobrasse? Iria para instituições, para quem mais necessitava. Porque ele era assim, tudo para os outros, para quem mais necessitava. Então, nas férias, decidiu ir trabalhar para um centro de ajuda a pessoas com grandes doenças. E ela aprendeu muito nesse centro. E agora todos se perguntam a si mesmos qual é a moral da história. Não existe nenhuma moral. O rapaz? Esse viveu muito no centro. Viveu experiências que quase ninguém se dá, sequer, ao trabalho de pensar em vivê-las. Mas aprendeu uma grande coisa: aprendeu a viver com a dor, a controlá-la e a aceitá-la, pois ela, com o tempo, acabaria por passar, acabaria por ir embora. E então, o rapaz não ficou preso, não. Ele dedicava-se na fisioterapia. Quando doia? Já não a reprimia, fazia pequenos exercicios, de modo a acalmar. E ele foi crescendo, e acabou por dominar a dor. A operação? Essa, é que ele nunca aceitou.