sábado, 16 de junho de 2012
Eu quero ser livre
Porque o mundo é um infinito de coisas, é um lugar mágico e perigoso ao
mesmo tempo, fascinante e assustador, encantador e cruel, fácil e difícil (…) E
nele, neste mundo que combina o pior e o melhor num único espaço, que eu quero
ser livre, livre como um pássaro que bate as suas asas contra o vento, que
atravessa a mais suave das nuvens ou toca no mais distante mar e foge, foge
para longe de todos, que pode distanciar-se da guerra e juntar-se à paz, que
quando chove se refugia em qualquer lugar, por mais pequeno e estranho que ele
seja, que é dono de si mesmo e de mais ninguém. Eu quero ser livre, quero que
me deixem voar pelos céus mais altos e rastejar pelos solos mais profundos, que
me deixem correr pelas florestas mais negras ou nadar nas águas mais perigosas,
quero explorar o mais valioso dos tesouros e o mais pobre dos lugares, quero
seguir o mais dos poderosos ventos e sentir a mais calma das brisas, quero
conhecer o amanhã e esquecer o ontem, quero viver o presente e só o presente,
desfrutar daquilo que o mundo tem para me oferecer, ajudar quem mais necessita,
dar a mão àqueles que só por si não são capazes de alcançar o topo, eu quero
ser livre. Quero subir ao céuazul, aquele que todos os dias observo da janela
do meu quarto, e descer ao mar, àquele infinito de água. Quero descobrir os
segredos de cada lugar, sentar-me nos ramos da árvore mais antiga que existe e
escutar as suas histórias, à luz da lua, quero encontrar a mais bonita das
flores e preservá-la junto a mim, sem nunca a largar. Preciso disso, de ser
livre, necessito da liberdade para poder continuar.
domingo, 10 de junho de 2012
Noite de Insónias
1 hora da manhã – Já devia
estar a dormir, esta hora é hora de sonhos, hora de descanso. Giro sobre mim
mesma, ficando de barriga para baixo. Oiço o barulho na televisão na sala,
sinal que o meu pai ainda está a ver televisão. Tenho tanto calor, meu deus.
Sono, por favor vem, por favor.
2 horas da manhã – Já passou
uma hora e continuo aqui, totalmente sem sono. Passos na sala indicam-me que o
meu pai se está a preparar para ir dormir. Oiço-o a desligar a televisão. Mais
passos. Desliga a luz da sala e dirige-se para o quarto. Começa a ler. Ponho os
phones nos ouvidos, tentando abstrair-me do mundo que me rodeia.
3 horas da manhã – Desisti de
esperar pelo sono. O meu pai adormeceu à cerca de 20 minutos. Agora tenho frio.
Tapo-me e enterro a cabeça na almofada. Sento-me na cama e bebo água de uma
garrafa que tenho na mesinha de cabeceira. Olho para a minha irmã, a dormir,
tão inocente quanto uma criança o pode ser. Tenho saudades de conseguir
adormecer assim.
4 horas da manhã – A minha irmã acorda. Chama pelo meu
pai. Ele vem, leva-a para o seu quarto e desliga a luz de presença. Escuridão
total. Começo a imaginar sombras nas paredes. Do nada, sinto-me aterrorizada,
como uma criança com medo do escuro.
5 horas da manhã – Os meus olhos à muito que se
adaptaram à escuridão do quarto, mas mesmo assim a minha mente prega-me
partidas, demasiadas até. Mudo a música. Deito-me de barriga para baixo. Sono,
porque não vens? O meu telemóvel já ficou sem bateria, mas não me apetece ir
pô-lo a carregar, pelo que já não tenho música. Oiço o tiquetaque do relógio do
meu avô, na sala.
6 horas da manhã – Tenho sede e, como já esvaziei a
pequena garrafa que tenho na minha mesinha de cabeceira, vou até à cozinha. O
escuro da casa mete-me medo, e a minha cabeça começa a imaginar pessoas. Não
são reais. Eu sei que não. Acendo a luz da cozinha, ofuscando-me. O meu cão
gane levemente, como a dizer que também quer água. Bebo eu, depois dou-lhe e
volto para o quarto.
7 horas da manhã – O começo de um novo dia. O
despertador toca. Desligo-o quase imediatamente. Levanto-me da cama, vou até à
casa de banho e tomo um duche, sentido a
água quente contra os músculos doridos da noite em claro. Saio, enrolo-me com
uma toalha e vejo-me ao espelho. Revigorada pelo banho, já não pareço tão
cansada.
quinta-feira, 7 de junho de 2012
O mar é fiel 2*
E enquanto olho para o mar, entendo coisas que nunca pensei entender. Ele
completa-me de uma forma tão poderosa, que a sua falta cria em mim um abismo
sem fundo. E é ao olhar para ele, para a sua calma, para a sua tranquilidade,
que eu entendo coisas que antes não entendia, coisas que só quando olho para o
meu fiel amigo, é que consigo reconhecer.
Inspiro fundo, deixando aquela maresia entrar-me nos pulmões,
preenchendo-me o peito. Caio na areia. Que frio tão acolhedor, tem aquele mar, aquele frio que me aquece,
aquele frio que constrói em mim um escudo protetor, aquele frio que acalma a
mente. Que me sossega o espírito.
Expiro lentamente, sem nunca deixar de fitar o horizonte, sem nunca deixar de imaginar o que estará depois dele, depois deste mar e depois de todos os seres que nele habitam. Mais casas, isso de certeza. Mais humanidade, disso estou segura. Mas nada muda o que sinto daquele enorme paraíso, daquele espaço que me abraça. Por mais que a humanidade me repele. E é no mar que eu solto as minhas amarguras, é nele que eu posso gritar, ao lado de todos os outros seres, porque eu sei que ele não vai embora e que nele eu sou livre, livre para fazer o que eu quiser. Sou livre. Sou eu.
Levanto-me, pego nos ténis, pego na mala e começo a andar. Pelo caminho olho para a areia, para a espuma que o mar deixa atrás de si e as formas que faz. Vejo as conchas, tão belas. Cada uma diferente da outra. Algumas são tão complexas, que demoraria tempos infinitos a conseguir desenhá-las. Outras, no entanto, são tão simples que eu própria poderia conceber um esboço delas.
Chego ao pé de um conjunto de rochas. Escolho uma meio achatada e meio alta, que serve de banco. Sento-me, no momento exato em que uma onda a banha de um lado ao outro. Tenho que levantar os pés, pois a onde é suficientemente grande para me molhar até aos joelhos. Curvo-me para dobrar um pouco as calças e quando olho para cima, está uma criança a olhar para mim. É simplesmente linda. Olhos que refletem o céu, sem tirar nem pôr. Uns cabelos loiros, que caem sobre a testa, sobre as orelhas, pelos ombros, até às costas, parando mais ou menos a meio. Podia ser filha do mar, tal era a paz que emanava.
A chucha dela cai na areia, ficando suja. A pequena baixa-se a apanha-a, erguendo-se lentamente, a olhar para o sujo objeto na mãozinha dela. O maior problema dela, é uma chucha suja. Levanto-me e vou ao seu encontro. Ela não se mexe, sequer. Seria de esperar que tivesse medo, ao ver uma estranha a encaminhar-se até ela. Mas não. Ela fica calma, como se eu lhe fosse familiar. A bem ver, ela era loira, como eu. E tinha os olhos azuis, como eu. No entanto, quantas pessoas existem por aí, loiras de olhos azuis?
Pego na pequena chucha e vou até à água, onde a lavo, regressando depois à areia e dando-a à pequena. Ela pega nela, com aquelas mãos tão suaves, e prende-a ao casaquinho de malha. Depois pega nela, e mete-a na boca, como que a saboreá-la. Sorrio. A mãe dela chama-a, mas ela continua a olhar-me intensamente. Depois agacha-se, apanha um seixo, tão perfeito, tão lindo, e estendo-mo. Agarro-o, e a pequena sorri, feliz por eu ter aceito a sua oferta. Depois vira-se, e começa a andar, indo ter com a mãe. Guardo o seixo no bolso, e volto para as rochas, onde me sento, no mesmo lugar de à bocado.
Expiro lentamente, sem nunca deixar de fitar o horizonte, sem nunca deixar de imaginar o que estará depois dele, depois deste mar e depois de todos os seres que nele habitam. Mais casas, isso de certeza. Mais humanidade, disso estou segura. Mas nada muda o que sinto daquele enorme paraíso, daquele espaço que me abraça. Por mais que a humanidade me repele. E é no mar que eu solto as minhas amarguras, é nele que eu posso gritar, ao lado de todos os outros seres, porque eu sei que ele não vai embora e que nele eu sou livre, livre para fazer o que eu quiser. Sou livre. Sou eu.
Levanto-me, pego nos ténis, pego na mala e começo a andar. Pelo caminho olho para a areia, para a espuma que o mar deixa atrás de si e as formas que faz. Vejo as conchas, tão belas. Cada uma diferente da outra. Algumas são tão complexas, que demoraria tempos infinitos a conseguir desenhá-las. Outras, no entanto, são tão simples que eu própria poderia conceber um esboço delas.
Chego ao pé de um conjunto de rochas. Escolho uma meio achatada e meio alta, que serve de banco. Sento-me, no momento exato em que uma onda a banha de um lado ao outro. Tenho que levantar os pés, pois a onde é suficientemente grande para me molhar até aos joelhos. Curvo-me para dobrar um pouco as calças e quando olho para cima, está uma criança a olhar para mim. É simplesmente linda. Olhos que refletem o céu, sem tirar nem pôr. Uns cabelos loiros, que caem sobre a testa, sobre as orelhas, pelos ombros, até às costas, parando mais ou menos a meio. Podia ser filha do mar, tal era a paz que emanava.
A chucha dela cai na areia, ficando suja. A pequena baixa-se a apanha-a, erguendo-se lentamente, a olhar para o sujo objeto na mãozinha dela. O maior problema dela, é uma chucha suja. Levanto-me e vou ao seu encontro. Ela não se mexe, sequer. Seria de esperar que tivesse medo, ao ver uma estranha a encaminhar-se até ela. Mas não. Ela fica calma, como se eu lhe fosse familiar. A bem ver, ela era loira, como eu. E tinha os olhos azuis, como eu. No entanto, quantas pessoas existem por aí, loiras de olhos azuis?
Pego na pequena chucha e vou até à água, onde a lavo, regressando depois à areia e dando-a à pequena. Ela pega nela, com aquelas mãos tão suaves, e prende-a ao casaquinho de malha. Depois pega nela, e mete-a na boca, como que a saboreá-la. Sorrio. A mãe dela chama-a, mas ela continua a olhar-me intensamente. Depois agacha-se, apanha um seixo, tão perfeito, tão lindo, e estendo-mo. Agarro-o, e a pequena sorri, feliz por eu ter aceito a sua oferta. Depois vira-se, e começa a andar, indo ter com a mãe. Guardo o seixo no bolso, e volto para as rochas, onde me sento, no mesmo lugar de à bocado.
Torna a vir uma outra onda, desta vez molhando as minhas pernas
totalmente. Suspiro, enquanto me levanto e tiro as calças. Fico em biquíni, com
uma camisa – a camisa dele. Sorrio, enquanto estendo as calças numas rochas
mais longe do mar, juntamente com a mala e os ténis. Depois dirijo-me de novo
à beira mar, e sento-me, na areia molhada. Começo a cavar uma covinha, com
gestos lentos e monótonos. Vem outra onda, e sinto uma enorme vontade de
mergulhar. Sem hesitar, corro para o mar e atiro-me. Não me lembrei da camisa.
Não me lembrei do frio. Não me lembrei do vento. Não me lembrei de nada.
Deslizo debaixo de água, enquanto deixo o ar sair pelo nariz. Volto cá acima, e
deixo a cabeça cair para trás, olhando o céu cinzento. Tão lindo. Bato os pés,
levemente, e volto a mergulhar. Sinto-me leve, tão leve. Fico ali um bocado, a
nadar e depois saio da água, a camisa colada ao meu corpo. Olho para trás,
apenas girando o pescoço. Com disse, é belo, é único. Volto ao pé das calças. Como
é óbvio, não secaram. Não me importo, e visto-as mesmo assim. Pego na mala, nos ténis, e olho, pela
centésima vez, o mar.
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