quarta-feira, 28 de setembro de 2016

É de noite que tudo acalma. 
Costumam dizer que é quando tudo piora. Que tudo vem, que tudo ataca. Comigo, não. De noite vem o silêncio. Vem a paz. Não há ruído de fundo, não há carros, não há pessoas, não há alarmes. Não há responsabilidades, não há deveres. O dia acabou. Já foi. Mais um.
O tempo passa mas não passa. O ponteiro do relógio anda, segundo após segundo, porém, é como se estivesse parado. Os minutos não importam. As horas muito menos. O tiqtaq constante nem se ouve. Irrelevante, esquecido.
De noite, posso pensar. Posso reflectir. Posso ser eu, só eu, e mais ninguém. Posso deambular, vaguear, pelos confins da subconsciência, onde a memória se fundiu com a imaginação. Posso ver o irreal. Tocar-lhe, senti-lo entre os dedos, sem que me escape. De noite, simplesmente, posso. Ninguém está acordado para me impedir. Ninguém está acordado para me despertar de um sonho de olhos abertos. Sou só eu.