quarta-feira, 24 de abril de 2013

Nada em lugar algum

Esta floresta é tão negra. Onde vou? Qual é o caminho? Olho em volta, uma, duas, três vezes, e mais umas quantas. Não sei, não o vejo. Tento perscrutar a escuridão, encontrar algo que me indique onde estou, para onde posso ir. Não encontro. Que sítio é este? Melhor, como vim aqui parar? Não me lembro, não sei de onde vim, não sei que estrada me trouxe até aqui, onde estou, quero saber, preciso de saber. Ando. Dou voltas e voltas, em busca de uma saída. O ar pesa. Corrói-me por dentro. Os pulmões imploram por alivio, mas ele não vem. É como se um veneno pairasse à minha volta, cada vez mais pesado, cada vez mais tóxico. Tropeço, não sei onde ou como, o chão parecia limpo, mas até ele mudou. Deixo-me ficar estendida no chão, sinto os músculos a pedir descanso, estão cansados, quando foi a última vez que parei, não me lembro, mais uma vez, não me consigo recordar. O sol, onde está? Ele tem que nascer, todos os dias, ele nasce, porque é que ainda não apareceu, porque é que não o consigo ver? Deito-me de costas, consigo olhar. Olhar? Olhar para onde? Não há nada para ver. Não há nada distinguir. Estico a mão e entendo que nem isso consigo observar. Tento olhar para mim mesma, mas é como se não estivesse aqui. O que se passa, o que é isto? O medo apodera-se de mim. Que sítio é este, que terra é esta, onde foi que vim parar, como? Levanto-me, meio atabalhoadamente. Tento dar passos, mas eles são instáveis, a pernas tremem, de frio, de medo? Não sei, não consigo distinguir, talvez dos dois. A minha cabeça anda à roda, não consigo pensar, ou talvez consiga, em excesso. Sinto um arbusto à minha frente e depois, o chão. Espinhos. Espinhos por todo o meu corpo. Nas pernas, nos braços, na barriga. Com os dedos trémulos, começo a retirá-los, um por um. Cada vez dói mais, cada um mais fundo do que o outro. Alguns entraram debaixo da carne, já não saem. Respiro fundo, olho em frente, preciso de sair daqui, por onde, preciso de um caminho. Porém, por mais que tente, não consigo, por mais que tente, não há nada que me leve a sair daqui, nem sei onde é que o aqui é. Sinto a réstia de força que tinha a ir-se embora, sinto o desespero a tomar conta de mim. Grito. Não sei porquê, mas grito. Peço ajuda. Chamo por alguém. Berro com a força que resta dos meus pulmões. Este ar, está pior. Não me permite respirar. Quebro. Começo a chorar e apercebo-me que nem as minhas lágrimas sinto. Estarei mesmo a chorar, ou será o cansaço a levar a sua avante? Não pode ser. Pode? O que é isto, o que é que me está a acontecer? Tirem-me daqui. Levem-me daqui. Eu só quero sair daqui. A dor causada pelos espinhos, não está lá. Passo os dedos pelas pernas, mas não as sinto. Não sinto nada. Sou real? Isto é real? Ou é só algo que a minha mente criou? Eu não sei. Eu não sei quanto tempo passou, quanto tempo perdi. Não sei quem sou. Quem sou eu? O que estou a fazer aqui? O que aconteceu? Tantas perguntas, a minha cabeça recusa-se a mais. Deito-me no chão sujo e fecho os olhos. Não há diferença entre tê-los abertos ou fechados. Não vejo nada, em ambos os casos, mas não me importo. Deixo-me ficar. Aos poucos, o meu corpo acalma-se. O ar continua pesado, os pulmões, cansados, mas parecem ter baixado a guarda, parecem ter desistido desta luta desnecessária. A mente vai-se esvaziando, os pensamentos vão saindo. E, finalmente, encontrei a saída.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Do tudo ao nada

Como as folhas de outono que caiem.
Como as folhas de primavera que crescem. 
Como o riacho que seca no verão. 
Como o riacho que se enchesse no inverno. 
Como a chama que arde
Como a chama que se extingue
Como as ondas que cessam na areia. 
Como as ondas que se formam no mar. 
Como o Sol que se põe todas as tardes. 
Como o Sol que nasce todas as manhãs. 
Como a linha que tem fim. 
Como a linha que tem inicio.
Como a Lua se esconde todos os dias. 
Como a Lua que se mostra todas as noites. 
Como as flores que morrem no frio. 
Ou como as flores que nascem no calor. 
Como as nuvens que se dissipam. 
Como as nuvens que se formam. 
Como a luz que se apaga. 
Como a luz que se acende. 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Um pequeno nada

Não sei quantos textos já comecei sem ver inicio às palavras. Quantos textos tentei formar, juntando frases que no fim, não se ligavam entre si. Perdi a conta aos rascunhos no meu computador, às folhas que amachuquei, aos textos que ficaram a meio (ou nem tanto). Ultimamente, nada se forma. Nada se constrói. Posso dizer, que não me lembro da última vez que me senti assim. Sem inspiração, sem criatividade, sem forma de conectar as palavras entre si. Posso dizer, a sensação não me agrada. E a pior coisa é quando sei que preciso de desabafar, mas não consigo. Não consigo deitar cá para fora tudo o que sinto, tudo o que penso, tudo o que se passa. Pela primeira vez em tempos, não consigo transferir os meus pensamentos para o papel, não consigo falar com o meu melhor amigo. Porém, eu preciso. Preciso da sua ajuda o mais depressa possível, preciso que ele fale comigo, que ele me diga o que necessito saber, que ele me dê as respostas que procuro, mas como poderá ele dizer-me se nem as perguntas sei fazer? Para mim, este é pior estado de espírito. Aquele em que queremos dizer tudo, queremos gritar ao mundo o que nos vai pela mente, queremos mostrar as nossas reflexões, mas eles recusam-se a sair. Recusam-se a ser expostas, assim, desta forma. E por isso fecham-se cá dentro. Trancam-se a si mesmas. Elas não notam. Não percebem que me confundem a cabeça, cada uma a quer ganhar, a querer levar a sua avante, cada uma quer ser a escolhida, elas não entendem o que isso me causa, o que isso provoca na minha cabeça, elas são mas fortes, e de tanto querem sobressair, acabam por acabar com a pouca sanidade que resta. Não consigo, é uma luta permanente, entre o que oiço, o que queria ouvir, o que vejo, o que queria ver, o que sinto, o que queria sentir. É uma constante de guerra que não tem fim, uma constante de batalhas sem vitória. Porque não há ninguém para ganhar. Sou só eu. Sou eu contra mim mesma, ninguém mais. Apenas eu. No fim, apenas há um corpo cansado. Uma alma cansada. Cansada de lutar, cansada de não saber quem é, cansada de se arrastar até este ponto. Apenas uma alma cansada. Nada mais.