Dias de vento, fazem-me perguntar ‘e se’. E se as coisas tivessem sido o
oposto. Se eu tivesse conhecido outro pessoa, em vez daquela? Se eu não tivesse
mudado de casa? Se eu naquele dia, não tivesse tido coragem de falar àquela
menina tímida, à porta da sala de aula? Se eu não tivesse, naquele dia, ter
tido a coragem de lhe perguntar se estava tudo bem com ele? Teria sido
diferente, teria feito uma grande mudança na minha vida. Ou talvez não. Talvez
as coisas continuassem como são. Talvez por qualquer outro motivo acabasse por
conhecer quem conheci. Feito o que fiz. O condicional é muito improvável, mas
ocupa o meu espirito quase todo o dia.
Dias de vento, fazem-me pedir que estejas aqui. Apesar de eu saber que
não estarás, mas não importa. Não importa quês digam que sou parva, que te
devia esquecer, que tu me magoaste e que ser ingénua ao ponto de te querer de
volta é estúpido. Mas eles não entendem. Eu quero-te como amigo. Porque apesar
de tudo, tu sabias sê-lo. Tu sabias dar-me apoio. O que dizer, quando dizer.
Não quero mais que isso. Pedir uma amizade, é pedir muito? Talvez até seja.
Talvez eu esteja a pedir um mundo a uma pequena estrela. Mas acredita, tu ainda
brilhas. E isto pode ser a minha parte fraca a falar. É provável que seja. Mas
não faz mal. Todos nós a temos, não é verdade?
Dias de vento, fazem-me bem. É como se depois de tudo isto, lá no fim,
levassem tudo com eles, como se ao se irem embora, se misturassem com a dor e a
levasse. Como se pegassem na mágoa e arrastem-se com eles. E eu gosto disso. O
que me faz gostar destes dias. Em que o cabelo bate forte contra a cara. Até
nos dignarmos a atá-lo. Mas a bem dizer, eu gosto do cabelo nos meus olhos, contra
a minha boca, a roçar no meu nariz. Gosto de sentir o seu cheiro. Porque isso?
Traz-me a casa. Mostra-me quem sou. O seu pequeno perfume, mostra-me onde
pertenço. Mostra-me que ainda algo é real. Por isso, não me importo que o
cabelo esvoace livremente.
Dias de vento. São dias. E que dias. Dias que me confundem. Que baralham
tudo cá dentro. Mas no crepúsculo, já decidiram o que levar e o que deixar. São
dias, daqueles que eu gosto.