domingo, 1 de dezembro de 2013

Quarto Vazio

Num quarto completamente vazio, vejo-me reflectida nas paredes de cal nu. No branco mais puro, a minha imagem aparece distorcida, inibida de pudor. Parece algo irreal, como que num sonho que tende a ser um pesadelo. Vejo-me escrita, sem condescendência alguma, numa tinta preta, letra ilegível, que se confunde com pouco mais que um pequeno rabisco em toda a pele. A caneta jaz algures no chão e por mais que me esforce, não a alcanço. Ela rebola pelo azulejo como que numa brincadeira que a diverte, apenas porque pode. O desespero de querer sair daqui já não existe. O pânico de estar fechada numa caixa há muito que foi embora. Neste momento, apenas há uma esperança - ainda que vã - de algum dia conseguir sair daqui. Uma esperança - ainda que pouca - que alguém, algures, saiba onde estou e me tente resgatar. Contudo, o tempo passa, ninguém vem e a esperança vai-se desvanecendo. 
Oiço uma voz que é minha, porém, eu não falei. Oiço o meu timbre a desvanecer-se no ar, no entanto, não foi eu que o comecei. Ao olhar, reparo no meu reflexo, sentado, fixado em mim. Desprovido de qualquer emoção, começa a falar. Num disparar de palavras, ataca as poucas defesas que me restam. Tento não ouvir, bloquear aquele som da minha mente, mas ele é mais forte e acaba por vencer. Sento-me, sentido o frio na pele que já perdeu a sua cor, e apenas escuto. Não sei se durante minutos, não sei se durante horas, não sei se durante dias. A noção de tempo já não mora aqui, deixou-me, deixando somente uma desorientação que há muito desisti de consertar.
Ele continua o seu discurso e eu pergunto-me quando ; todavia não me parece que vá acontecer. Isto não é uma pessoa, com necessidades, que precise de descansar. Não. Isto é algo que apenas existe, como um objeto à qual deram o dom de falar mas não o de sentir. Uma coisa, isso sim. A minha mente implora para que tudo acabe, que
Aos poucos, os meus olhos vão-se fechando. As pálpebras esforçam-se por não cair, mas o cansaço é tanto que é quase impossível continuar desperta. O meu corpo cede e a voz vai-se tornando menos nítida, menos clara. Paz, é tudo o que consigo pensar.