sexta-feira, 22 de julho de 2011

O mar é fiel

Chego à praia. Estou sozinha. É inverno e está frio, muito mesmo. Mas eu não me importo. Começo a tirar as camisolas, a descalçar as botas e as meias, ficando em biquíni. Um casal de idosos que está a abandonar aquela pequena praia, olha para mim, achando-me maluca, por estar assim vestida, em pleno inverno, quando eles vestem mais casacos do que a minha família toda junta. Sinceramente, pouco me importa o que eles acham. Abandonando as coisas na areia, corro para o vasto oceano, parando à beira mar, molhando apenas os pés. Imediatamente sinto-me calma, como que em paz. O mar é fiel. O mar, quer esteja cheio, quer esteja vazio, está lá sempre, para me ouvir, acalmar, para levar os meus problemas com a maré. Avanço em direcção às ondas e mergulho. Volto à superfície e fico a boiar, olhando o céu. Para uns o mar é medo, para outros um desafio mas para mim, o mar é sítio onde me sinto completa, é onde me sinto bem, feliz. Nele sinto que nada me pode atacar, o meu corpo sente-se protegido dos males e a minha mente dos barulhos da cidade, dos problemas da vida. Aos poucos o meu corpo vai-se habituando à baixa temperatura da água, começando a achá-la quente, reconfortante. Nado mais um bocado até que decido regressar a terra firme. Chegando a ela, deito-me na areia molhada, de barriga para cima e fecho os olhos. Ouço o murmúrio das ondas, escuto os segredos que a Mãe Natureza tem para me confidenciar, os mistérios que aquele lugar guarda, as histórias que recorda. Uma onda maior do que as outras chega até ao sítio onde estou não ralo, pois ela rapidamente volta ao sitio de onde veio.
Um caranguejo sobe pela minha barriga, aninhando-se nela. Não me mexo, gosto daquela sensação, até. Sabe bem saber que algo daquele paraíso gosta do meu ser, algo daquele lugar sente-se protegido ao meu lado. Bom saber que pelo menos ela, aprecia a minha companhia, por mais pequena que ela seja.
Passado instantes, sinto o pequeno a ir embora, ir ter com a família que está lá mais adiante. Finalmente abro os olhos, devagar, fitando o céu, tão cinzento, com pequenos raios do sol tentado passar pelas carregadas nuvens.
Sento-me de joelhos encostados ao peito com os braços a envolve-los. Fixo o mar, tão belo que ele é. Tão calmo. Porque não são as pessoas assim?, é a pergunta que me vem à cabeça. Porque não são elas calmas como o mar? Talvez achem que as confusões são a melhor solução, a única saída dos problemas. Oh, como estão erradas, as pessoas. Deviam aprender mais, com o mar.
Está a ficar tarde, tenho de voltar. Levanto-me e reparo que já estou seca. O tempo passou a voar, mas não importa. Acima de tudo, devemos ter tempo para perder tempo, e o meu é hoje. Sacudindo a areia de mim, começo a caminhar para o lugar onde está a minha roupa. Apenas visto as calças. Provavelmente está frio, mas eu não o sinto. Pelo contrário, sinto uma enorme chama dentro de mim, a aquecer o meu corpo, o meu sangue. Pego na roupa e enfio-a na mala. Viro-me uma última vez para o mar, pondo a mala ao ombro. Sorrio. É bom saber que aconteça o que acontecer ele, o mar, não vai desaparecer, é bom saber que quando estiver mal, posso contar com o mar para me ajudar. Desejava tanto poder ficar ali mais tempo, naquele lugar. Mas não posso, por mais que custe, eu não posso. O meu telemóvel toca, chamando-me à terra. Atendo. É a minha mãe. Asseguro-a que está tudo bem comigo e que já estou a regressar a casa. Desligo e, contra o que o meu coração me diz, volto para o mundo que me espera lá fora.

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