Era uma vez um conto de fadas, na qual tu eras o meu príncipe e eu era a tua princesa. Um conto de fadas na qual eu te amava e tu me amavas a mim, na qual o sofrimento era substituído pela alegria, na qual ‘dor’ era palavra proibida. Era uma vez um conto de fadas na qual o sol brilhava todos os dias, na qual quando acordávamos ouvimos o cantar dos pequenos pássaros, na qual o calor aquecia o nosso corpo, na qual nos sentíamos protegidos, aconchegados por quem mais amava-mos, era uma vez um conta de fadas onde nós reinávamos, onde tu eras o rei e eu a rainha. Um conto de fadas, localizado para lá das montanhas, para lá dos vales em que nada nos impedia de sermos felizes, em que não havia rochas entre nós e o nosso objectivo, em que a mentira não espreitava por de trás de cada poste, em que nada nem ninguém nos atacava, em que quando alguém segurava a nossa mão não a largava, em que quando alguém prometia não nos fazer sofrer, cumpria, em que apenas havia amor e amizade, onde o perdido era encontrado, onde o sempre era cumprido, onde o tempo parava quando nós mais desejávamos, onde o relógio biológico dentro de cada um de nós vive em função do carinho e do amor que nos é dado e que nós damos. É esse conto de fadas que nós todos desejamos, que todos nós queremos viver, um sítio onde tudo é perfeito, onde não há problemas nem conflitos, onde não há guerra por coisas inúteis, um sítio onde todos somos iguais, sem a menor ponta de descriminação ou racismo. Mas a verdade é que esse conto de fadas não existe, a verdade é que ele pertence ao mundo dos sonhos e quando nós regressamos dele? Deparamo-nos com a crueldade que invade as paredes, os muros deste caminho a que muitos chamam ‘Vida’, ao chegar cá fora deparamo-nos com o sofrimento que cada um guarda dentro de si, ouvimos os gritos de dor trazidos pelo vento, sentimos o frio que nos rodeia. A realidade é um sítio onde o tempo é inconstante, onde os obstáculos existem e com grande frequência, onde a toda a hora somos atingidos pela mentira, onde tudo e o nada se perdem rumo a um lugar melhor, rumo ao conto de fadas mas ele, esse lugar melhor, está longe, longe de mim, de nós, dos outros, longe do mundo. E quando eles regressam da sua busca incansável? Vêm gelados, com o sangue a temperaturas negativas, com os batimentos cardíacos mínimos, atordoados pelo que vêm e sentem (…)
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