Ali estava eu, ali estava a minha pessoa, a caminhar através de uma estrada sombria, a caminhar sob as nuvens mais pesadas, rodeada da neblina mais negra que alguma vez assombrou o mundo, tentando focar através daquela imensa escuridão. Ali estava eu, junto do nada, longe do tudo, deixei para trás os melhores, pois eles não mereciam que eu trocasse a sua felicidade pela minha dor, afastei-me do mundo pois ele tem os seus problemas e não necessita dos meus, para complicar ainda mais o seu dia-a-dia. Esqueci-me que na amizade, quando um sofre, os outros também sofrem, esqueci-me que não era por me afastar do mundo, que ele se ia afastar de mim. Deixei para trás os caminhos alegres, sem me dar conta, entrei nos caminhos mais escuros, mais afastados, sem me dar conta, enverguei num mundo desconhecido, o mundo da dor. Parecia que, a cada passo meu, os meus sentimentos, aqueles que me animavam, aqueles que me faziam sorrir, eram consumidos por aquela visão de nevoeiro, parecia que quanto mais avançava mais eles partiam deixando-me com as piores recordações. Queria voltar para trás, queria sair dali, daquele sofrimento. Queria voltar para aquilo que tinha deixado. Mas não podemos regredir no tempo, não podemos caminhar para trás e a minha cabeça, ela sim queria fazê-lo mas não arranjava argumentos fortes o suficiente para os meus pés obedecerem, então eles seguiam sempre em frente, ignorando que o meu coração estava repleto de feridas, ignorando o que a minha mente dizia, os meus pés avançavam perante aquela densa massa cinzenta mas eu nunca parava. Avançava e avançava até que me apercebi que estava a pensar no porquê. ‘Porque raio estou eu aqui afinal? Porque continuo eu neste sofrimento, porque continua esta dor dentro de mim? Sim, eu amo-o, amo-o no verdadeiro sentido da palavra mas não posso estar assim, não me posso rebaixar ao ponto de esquecer os melhores momentos da mina vida’. Foi com estas palavras, foi com este pensamento, foi com este pretexto que eu sai dali. Não, não andei para trás, apenas ‘evoquei’ a minha felicidade para mim, apenas relembrei os melhores momentos, as melhores gargalhadas, apercebi-me que nunca tinha estado realmente sozinha, não. O meu sofrimento fazia-me ver isso, fazia-me ver o mundo como eu me sentia, vazio, inexpressivo. Mas ele não é assim, o mundo não o lugar negro que muitas vezes nós vimos. Por vezes ele prega rasteira que nos fazem dar as maiores quedas mas nós temos de ser mais forte que elas, as quedas, nós temos de nos levantar. Caminhei, a cada passo meu parecendo mais decidido que o anterior, a cada passo meu o nevoeiro era menos denso a cada passo meu, a cada passo meu as nuvens cinzentas tornavam-se mais brancas com o passar do tempo e acabavam por dispersar, quanto mais avançava mais a minha dor diminuía e quando dei por mim, estava a ouvir o chilrear dos pássaros, quando dei por mim a luz do sol espreitava por entre os ramos das árvores, quando dei por mim tinha voltado a mim, tinha regressado àquilo que tinha deixado para trás, voltei a minha antiga felicidade (…)
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