quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O mar é fiel 7*

Saímos do bar. Está tanto frio, meu Deus. Pego no casaco ainda molhado e visto-o. Em nada contribuí para me aquecer, pelo que juntos os braços ao peito. Ao menos, as minhas feridas estão anestesiadas por aquele gelo.
- Tens frio? - pergunto ao Frederico. Ele não tem nenhum casaco e está vestido como se estivessem 40ºC.
- Não e tu, tens?
- Não, achas...
Ele ri-se e junta-se bem a mim, sem saber se me deve abraçar ou não. Abraça-o, de uma vez. Não, não consigo. Consegues sim, anda lá. Respiro fundo e junto-me ainda mais a ele, e fico imediatamente mais quente. Toco-lhe no braço. Está quente. Como é que é possível? 
Sem hesitar mais, ele mete uma mão na minha cintura e puxa-me para ele, abraçando-me. Deixo automaticamente de sentir frio. Continuamos a andar, com ele sempre a abraçar-me. Isso sabe tão bem.
Nenhum de nós fala, por isso está um silêncio enorme à nossa volta, pelo que, quando ele fala, eu assusto-me.
- Então, ainda não me disseste como te chamas..
- Lua - respondo, muito rapidamente.
Ele olha para mim, céptico. 
- Lua?
Suspiro. 
- Sim, Lua.
Ele pára. Será que acha que estou a gozar? Constato óbvio: ele não acha que eu estou a falar a sério.
- O meu nome é mesmo Lua, Frederico.
Ele inclina a cabeça, com se ainda não estivesse convencido. Eu não digo nada, fico em silêncio até ele se dignar a acreditar em mim. 
- É um nome bonito. Aliás, acho que te assenta bem. Que outra rapariga andaria de madrugada, a explorar grutas? Para além disso, acho que se a Lua tivesse uma filha, poderias muito bem ser tu.
Olho para ele, com um ar divertido.
- Poderia ser eu? Então porquê?
- Bem, para começar, acho que nunca na minha vida vi ninguém tão pálido como tu.
Fito-o, com desagrado. A minha tez tinha sido, já muitas vezes, motivo de gozo na escola. Era bom que ele não o fizesse.
- Não estou a dizer por mal! - levanto os braços, em sinal de paz. Vejo-lhe os músculos, bem definidos e sinto algo na minha barriga, como nunca senti antes. Algo bom, muito bom. - Acho que te assenta bem. Mais esse cabelo loiro e esses olhos sem cor própria. 
- Os meus olhos são azuis, bem azuis.
- Ai são? Parecem-me um cinzento esverdeado.
- Isso é uma cor?
- Claro que é!
- Tens a certeza? É que se não tiveres, estás-me a induzir em erro e isso não se faz. 
- Uau, usas palavras caras.
Suspiro e retomo caminho. Ele apressa-se a acompanhar-me, mas desta vez já não me abraça. Quem me dera que o tivesse feito, estou a morrer de frio.
Começo a pensar que nós os dois somos o oposto. Ele é alto, bem feito, moreno, muito moreno, com um cabelo vermelho vivo e transborda calor por todos os lados. Eu sou baixa, se bem que tenha os músculos bem desenvolvidos devido a anos a nadar. Sou muito branca, demasiado até e não importa quanto sol eu apanhe, eu nunca me bronzeio. Os meus lábios são fininhos, cor-de-rosa claros. Somos diferentes. Eu poderia ser filha da Lua. Ele poderia ser filho do Sol. Os olhos dele transportam chamas. Um fogo que parece não ter fim. Tal como o sol
De tanto pensar nisto, acabo por lho dizer.
- Tu bem que poderias ser filho do Sol.
Ele olha-me, sem qualquer expressão.
- Acho que sim - e encolhe os ombros.
Não falamos mais, e eu vou tão perdida nos meus pensamentos que só noto que chegámos a casa quando vejo o Frederico a parar, com um olhar estupefacto.
- Uau - murmura ele - Que casa! Quem é que vive aqui?
Um âncora puxa-me para a realidade assoladora. Sua estúpida, porque foste tu deixá-lo ir até aí? És tão burra, mas tão burra. 
- Lua, estás bem? Ficaste ainda mais pálida. Conheces os donos? Sabes quem são?
- Sou eu que moro aqui, Frederico - baixo a cabeça e sinto-o a fitar-me.
- És rica? Oh meu Deus, tu és rica! Juro que eu nunca..
Sinto a fúria e invadir-me. Olho-o bem nos olhos.
- E que tem eu ser rica? Que tem ter uma casa grande? Diz-me, que tem? Não tem nada. É uma casa. Uma porcaria de uma casa! Não passa de um objecto. 
- Eu... - gagueja. 
- Não, esquece. Obrigada por me teres ajudado. A sério. Agora, se me dás licença, tenho que ir descansar. Boa-noite.
- Ouve...
Não lhe dou hipóteses. Viro-lhe as costas, e entro em casa.

2 comentários:

Anónimo disse...

Está muito giro :D

Blue Girl disse...

obrigadaaa :D