Olá, sou eu. Sim, sou eu. Não sei se te lembras. Se te
recordas. Mas eu recordo-me sabias? Todos os dias. Sou eu, sim, sou eu. Eu, que
deixaste. Eu, que magoaste. Eu, que abandonaste. Sou eu, simplesmente eu. Só
eu. Mas sabes, já não sou a mesma. Sabes disso, não sabes? Sabes que cresci?
Que mudei? Que amadureci? Acho que sabes. Apesar de tudo, conhecias-me. Ou
talvez não. Talvez nunca me tenhas conhecido como eu julgava que conhecia.
Conhecias? Gostava de saber que sim, talvez isso ajudasse ao buraco que tenho,
um buraco que deixaste, um buraco que ninguém repara. Talvez quando olhas para
os meus olhos, vês o castanho-escuro que eles contêm. Só isso. Não sei se ainda
tens a capacidade de identificar a verdade por detrás da sua cor. A dor. A
mágoa de te ver partir desta forma. Não sei se algum dia soubeste. Não sei, não
sei. É difícil. Isto tudo. Esta situação. Este cenário. Consome-me. Eu mudei. E
tu? Mudaste? Eu não sei. Não consigo entender. Não consigo ver isso. Magoa-me,
desculpa, é verdade. Desculpa se sou fraca. Desculpa se não consigo. Desculpa.
Perdoa-me. Eu acho que mudaste. Para pior talvez. Ou talvez, esse ‘pior’ seja
apenas uma máscara. Talvez estejas a esconder tudo o que sentias, de mim. De
mim. Que te vi tudo. Que olhava nos teus olhos e descobria a verdade. De mim.
Para a qual não tinhas segredos. Se calhar voltaste a refugiar-te no teu muro.
Um muro que me afasta de ti, de uma maneira parva. Mas ela afasta. Esse muro,
já não era barreira para nós. Mas agora é. Será isso? É apenas um meio de
defesa? Ou és realmente isso? Eu não sei. Tornaste-te nisto que vejo? Neste ser
sem fundo? Sem calor? Sem emoção? Não, calma. Emoção, essa tu tens. Eu sei que
sim. Por mais que mudes, eu conheço-te. Melhor que muitos. Deixaste penetrar
demasiado em ti, para não te conhecer melhor do que conheço a mim mesma. Vi
demasiada dor nos teus olhos, para a deixar de reconhecer assim. Vi demasiada
culpa, para a esquecer desta maneira. Culpa. Que palavra. Tu sente-la? Talvez
sintas. Não sei. A culpa foi tua? Sim, muito provavelmente. E desculpa por
isto. Desculpa por te culpar. Desculpa por te fazer isto. Desculpa por não ser
forte para ultrapassar isto. Eu recordo-me, sabes? Todos os dias da minha vida
desde que partiste. Mas não choro. Não, isso não. Já não consigo. Porque o
vazio é tão fundo, que nem água tem. Está seco, essa parte de mim, sem vida,
sem emoção, essa parte grita por tudo que voltes mas tu não voltas. Tu não vais
voltar. Jamais. Eu sei. E tento convencer essa parte de mim. Não consigo. Mais
uma vez, desculpa. Mais uma vez, perdoa-me. Porque eu estou a tentar ser forte,
como me ensinaste. Porque sim, tu não me deste só dor. Aprendi muito contigo.
Será que aprendeste alguma coisa comigo? Eu não sei. Já poucas coisas são as
que sei sobre ti. Acima de tudo, eu quero que sejas feliz. E desculpa-me, por
não te conseguir perdoar.
2 comentários:
Muito bom mesmo (:
muito obrigadaaa :D
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