Sinto o fresco da água oxigenada nas feridas da minha perna. Sabe tão bem. Ainda arde, um pouco, mas está a passar. Aquele estranho, seja lá quem for, levou mesmo muito a sério os meus ferimentos e decidiu, que como eu não ia ao hospital, ele iria ser o meu médico.
- És a minha pequena cobaia- disse, com um sorriso na voz. E começou a cuidar de mim. Soube bem. Há muito que alguém não me fazia isto. Sinto-me como se tivesse outra vez 4 anos e tivesse caído enquanto brincava no parque.
Agora, já tinha as pernas com o curativo e a minha mão com uma ligadura. Ele insistiu em por uma, apesar dos meus protestos. Estou sentada, a um canto do café, que está praticamente vazio. São 4h37 da manhã.
- Toma, mete lá isto na cabeça.
- És a minha pequena cobaia- disse, com um sorriso na voz. E começou a cuidar de mim. Soube bem. Há muito que alguém não me fazia isto. Sinto-me como se tivesse outra vez 4 anos e tivesse caído enquanto brincava no parque.
Agora, já tinha as pernas com o curativo e a minha mão com uma ligadura. Ele insistiu em por uma, apesar dos meus protestos. Estou sentada, a um canto do café, que está praticamente vazio. São 4h37 da manhã.
- Toma, mete lá isto na cabeça.
Dá-me o gelo mas ao pegar nele, a minha mão treme descontroladamente. Estou tão fraca. Ele suspira e senta-se na cadeira ao lado da minha.
- Deixa, eu faço isso.
Com um gesto delicado, afasta as madeixas do meu cabelo e mete o gelo no galo. Sabe bem e solto um gemido de alívio.
- Amanhã há meia noite, o galo vai cantar.
- Ah Ah Ah, que engraçadinho.
Ele ri-se e eu riu-me com ele, o que faz a minha cabeça doer ainda mais. Calamos-nos outra vez, enquanto esperamos pelo nosso pedido. O senhor do café, um velho rezingão, não gostou muito quando apareceram mais duas criaturas para lhe aumentar a estadia ali, quando ele já estava a mandar todos embora. Mas, como ele me conhecia desde bebé e eu me estava mesmo muito mal, ele lá acedeu e foi buscar a caixa de primeiros socorros.
- Amanhã há meia noite, o galo vai cantar.
- Ah Ah Ah, que engraçadinho.
Ele ri-se e eu riu-me com ele, o que faz a minha cabeça doer ainda mais. Calamos-nos outra vez, enquanto esperamos pelo nosso pedido. O senhor do café, um velho rezingão, não gostou muito quando apareceram mais duas criaturas para lhe aumentar a estadia ali, quando ele já estava a mandar todos embora. Mas, como ele me conhecia desde bebé e eu me estava mesmo muito mal, ele lá acedeu e foi buscar a caixa de primeiros socorros.
- Posso saber como te chamas? - digo. Estou farta de lhe chamar 'estranho' na minha cabeça.
- Frederico e tu? - adoro a voz dele, tão doce, tão calma. Parece a voz do mar.
Ia-lhe responder mas aí chega o nosso pedido.
- Está aqui o pedido - resmunga. Obviamente que pensava puder fechar o bar mais cedo, mas a nossa chegada impediu-o.
- Obrigada... - balbucio e afasto-me ligeiramente do Frederico de modo a conseguir comer. Ele pousa o gelo na mesa e fica a observar-me.
Pego em metade da tosta e levo-a à boca. Nunca na minha vida uma tosta soube-me tão bem. Mastigo como se nunca tivesse comido nada na minha vida.
- Bem me parecia que estavas com fome - diz, boquiaberto.
Rio-me, o que acaba comigo a cuspir tosta por tudo o que é sítio. Ele também se ri, e a sua gargalhada é tão contagiante, que eu ainda me rio mais. Quando foi a última vez que me ri assim?
- Bem me parecia que estavas com fome - diz, boquiaberto.
Rio-me, o que acaba comigo a cuspir tosta por tudo o que é sítio. Ele também se ri, e a sua gargalhada é tão contagiante, que eu ainda me rio mais. Quando foi a última vez que me ri assim?
Passado um bocado, conseguimos parar de rir. Tenho que respirar profundamente várias vezes antes de voltar a comer, para não haver mais acidentes. Levo mais tosta à boca e continuo a mastigar.
- Bem, acho que já fiquei sujo de tudo menos de tosta... - e começa a tirar os pedaços da camisola de mangas cavas.
- Vai uma dentada? Deves ter fome..
- Não, sabes, enquanto tu andavas a fazer de Indiana Jones versão feminina, eu estava a jantar.
- Parvo - e continuo a comer.
Quando termino, afasto o prato de mim.
- Bem, acho que já fiquei sujo de tudo menos de tosta... - e começa a tirar os pedaços da camisola de mangas cavas.
- Vai uma dentada? Deves ter fome..
- Não, sabes, enquanto tu andavas a fazer de Indiana Jones versão feminina, eu estava a jantar.
- Parvo - e continuo a comer.
Quando termino, afasto o prato de mim.
- Já posso ir para casa, senhor Frederico?
- Só se me deixares levar-te.
Quero dizer que não. Que já estou bem. Que não é preciso. Mas a presença daquele ser exótico, mexe comigo. E faz-me esquecer a promessa que fiz a mim mesma. A promessa de nunca levar ninguém a minha casa.
- Pronto, acho que pode ser.
Ele sorri, o que torna o seu rosto ainda mais bonito.
- A sério que isso te faz assim tão feliz?
Ele não responde. Vai até ao balcão e, visto que eu não tenho dinheiro nenhum, ele paga. O velho senhor parece verdadeiramente contente por ver que nos vamos embora.
- A sério que isso te faz assim tão feliz?
Ele não responde. Vai até ao balcão e, visto que eu não tenho dinheiro nenhum, ele paga. O velho senhor parece verdadeiramente contente por ver que nos vamos embora.
Anda - diz, e dá-me a mão.
2 comentários:
tens de continuar, que história linda!
obrigada, sim vou continuar, tenho imensas ideias para esta história <3
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