sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O mar é fiel 11*

O tempo passa a uma velocidade estrondosa. Ainda ontem estava irritada por ser verão e hoje já tenho de vestir um casaco para vir até à praia. É, realmente, incrível. Dantes, durante o verão, era eu que tinha de esperar por Frederico, todos os dias. Ia para a praia, e ficava sentada na areia, a vê-lo, simplesmente a vê-lo a fazer o seu trabalho. Não o podia distrair, afinal de contas, ele era o nadador-salvador, tinha de ter atenção. Então ficava ali, a observar cada traço do seu corpo, a escutar o mar, a desejar arduamente que a noite chegasse. Que pudéssemos ir para a nossa gruta. Nadar. Rir. Conversar. E conversávamos, muito mesmo. Ele contava-me coisas sobre o seu passado, os seus 'amigos' e colegas, a sua família. Eu tentava falar de mim, mas era difícil, pelo que, normalmente, falávamos sempre dele. 
Agora, de inverno, durante as aulas, já não é assim. Entre aulas, testes, trabalhos de grupo e trabalhos de casa, é difícil estar com ele. Por norma, levo os livros e cadernos e vamos os dois para a gruta, sozinhos e ele fica a ver-me a estudar, sem proferir um único som. Ele consegue ficar calado durante muito tempo. Tenta sempre conciliar os seus trabalhos com o meu horário, mas quando não consegue, troco o nosso paraíso pelo meu quarto.  
O grande problema e o nosso maior inimigo, é o tempo. Temos tido sorte, tem estado sol e algum vento, só um ou outro dia de chuva. Quando assim é, vamos para o café do velho rezingão. Ficamos lá numa mesa ao canto e ninguém dá por nós nem nós por ninguém. 
A cada dia que passa, a nossa relação melhora. Somos amigos. Recordo-me disto, todos os dias. Para que fique claro. Mas custa tanto. O desejo de avançar para algo mais é devastador. Mas tenho tanto medo. Pela primeira vez, estou a aproximar-me de um ser-humano. Pela primeira vez, estou a confiar em alguém. Alguém que não o mar. Ah, o mar. Tenho tantas saudades dele. Apesar de passar o tempo quase todo na pequena gruta, já não tenho uma ligação concreta com o mar à muito. Um momento só comigo e com ele, agora passo o dia com Frederico…
- LUA!
O grito assusta-me de tal forma, que salto e acabo por cair no passeio. Olho em volta e vejo a minha mãe. Oh não, por favor, hoje não.
- Anda para dentro, temos muito que falar – e dito isto, volta-me as costas e entra dentro de casa.
- Obrigadinha pela ajuda – resmungo, entre dentes, levantando-me. Entro em casa e fecho a porta atrás de mim.
- O que é que foi?
- Olha o tom, minha menina, sou tua mãe, exijo respeito.
Sinto a resposta presa na garganta, mas esforço-me por a deixar lá.
- Gostaria de saber, se não for muito incómodo, porque raio não estavas tu em casa quando cheguei!
Senti a raiva a invadir-me.
- AS PESSOAS NÃO VÃO FICAR ETERNAMENTE À TUA ESPERA SABIAS?
- Olha o tom, já te disse. Falei com a empregada, ela diz que tu só vens a casa dormir, o que é que andas a fazer afinal?
- A empregada tem nome: é Dona Matilde. E se passasses mais tempo aqui do que fechada em aviões, saberias!
- Eu exijo saber!
- Não tens esse direito! Vens a casa uma vez em cada três meses e já pensas que mandas? 
- Até teres 18 anos, quem manda aqui sou eu por mais que tu queiras ou não.
- Quero lá saber. Eu tenho boas notas, porto-me bem, não me meto em sarilhos e não dou trabalho nenhum – qual é o problema de sair? Não é o que tu fazes o ano todo?
- Isso não te dá o direito..
- O que não te dá direito é estares completamente nas tintas para mim e depois chegas aqui como se fosses rainha, eu não quero saber se tu achas as coisas adequadas ou não, a tua porcaria de opinião pouco me importa!
Nem entendo que estou a gritar, nem entendo que me descontrolo, nem entendo que já estou com lágrimas grossas a escorrer-me pela cara.
A minha mãe está calma, muito calada e branca, muito branca.
- Lua, eu…
- Esquece, não quero saber! Queres saber o que tenho feito? Tenho estado com um amigo. Problemas? Não te preocupes, ao contrário de ti, ele sabe cuidar de mim!
Viro-lhe as costas, não quero saber de mais nada. Abro a porta de tal forma que ela quase que sai dos gonzos. 

1 comentário:

Unknown disse...

Obrigada pelo comentário, és mesmo querida! Esim, tu escreves mesmo bem!! Fico à espera que escrevas mais da outra história que eu adoro. Amanhã de manhã vou postar o 2º capitulo. Se gostaste passa pelo meu blog e comenta! Bjs!!