quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O mar é fiel 10*

Felicidade, é o que melhor me descreve neste momento. Enquanto nadamos juntos. Vimos à tona, respiramos e voltamos para debaixo de água. Ele agarra-me e eu agarro-o. Bem junto a mim. Que estás a fazer? Ele é um desconhecido! E no entanto, sinto que o conheço. Sinto que o conheço à anos. Aquele estranho, seja lá quem for, faz a minha pele arder, mesmo naquela água gelada, e ao mesmo tempo ter arrepios pelo corpo todo.
- Que achas de sairmos um pouco de dentro de água?
Desde que estejamos juntos, é-me igual.
- Sim, pode ser.
Ele sorri e eu sorrio ainda mais. Senta-mo-nos na areia, mas não muito próximos. Sinto as palavras na minha garganta, tenho de as dizer. Vá, estúpida, pede desculpa. Mas e se ele não desculpar? Mas estás parva? Viste bem como ele está contigo? Sim, mas.. Pede-lhe desculpa duma vez e
arruma o assunto!
- Frederico? – sabe tão bem dizer o nome dele.
- Sim, Lua? – sabe ainda melhor ouvi-lo dizer o meu nome.
- Desculpa.
Ele olha-me, sem entender. A sério que já esqueceu?
- Por ontem. Desculpa ter reagido daquela maneira. Desculpa ter-te falado naqueles modos. Não merecias, fui parva, desculpa, a sério. Tu ajudaste-me, com tanta paciência e eu perdi as estribeiras daquela forma, não o devia ter feito, desculpa
- Hey, calma.
Ele aproxima-se de mim e percebo que falei com a voz cheia de culpa, de desespero, de medo que ele não perdoe, atropelando as palavras umas nas outras.
- Por favor, desculpa, a sério - respiro fundo e noto que tenho água nos olhos. Parva, não chores!
- Não faz mal, a sério. Eu entendo.
- Entendes? – Olho-o bem nos olhos e olho bem nos meus.
- Sim, entendo. O medo de alguém só querer saber de nós porque temos dinheiro. Porque somos ricos. Eu sei o que isso é?
Ele já se afastou de novo.
- Como… como é que entendes?
- Porque eu já passei por isso – a sua voz está desprovida de calor. Está fria, mais fria do que aquele ar. Fico calada, até ele continuar. Será que vai confiar o suficiente em mim para me contar aquilo?
Passado um bocado, ele fá-lo.
- Quando era mais novo, era rico. Podre de rico mesmo. Eu podia comprar o que quisesse quando quisesse. Os meus pais... Eles eram do mais snobe que há. As pessoas eram minhas amigas pelo dinheiro. Ninguém entendia que eu não queria aquilo, que eu não queria ser rico, que eu não pertencia aquele mundo. Eu tinha tudo mas não tinha nada, entendes? Ninguém me queria ouvir, ninguém me queria feliz, ninguém queria o meu bem-estar.
Isto ataca-me o coração. Por completo. Se ele soubesse como o entendo, se ele soubesse isso.
Vejo que ele se está a tentar acalmar. Tem lágrimas nos olhos. Não quer dar parte fraca. Ele não é fraco!
- Então fugi - continua - Tinha 15 anos na altura. Ninguém me procurou. Acho que os meus pais devem ter inventado uma mentira qualquer, não sei. Eles sempre ligaram mais às aparências do que a outra coisa qualquer. Comecei a minha vida noutro lado. Nunca fui de muitas despesas. Trabalhava a tempo inteiro num bar ao pé da praia, no verão. Fiquei em casa de um amigo meu, que conheci nas férias. A mãe dele aceitou fazer de minha encarregada de educação. Durante o ano-lectivo, tinha um part-time. Não ganhava muito, mas era o suficiente para mim. Quando fiz 18 anos, vim para aqui. Trabalho como nadador-salvador no verão e de no resto do ano, faço um pouco de tudo. Nunca mais fiz amigos, desde que para aqui vim. Até ontem, acho eu. 
Olha-me bem nos olhos. Sei que é verdade. O que ele me contou. Eu sei que sim. Como sabes? Vais confiar nele? Ele é um estranho. Não, não é. 
Aproximo-me delem, que já está com grossas lágrimas a caírem lhe no rosto. Sento-me ao seu lado e toco-lhe na face
- Eu estou aqui. Entendes? Eu percebo-te tão bem, eu sei o que é estar sozinha. Mas tu não estás sozinho. Não mais. Eu prometo. 
- Porquê? Tu não me conheces, como sabes que disse a verdade?
Não respondo, limito-me a encolher os ombros e a abraçá-lo.

1 comentário:

Unknown disse...

Blue Girl, comecei agora uma história no meu blog.. Podes dar uma vista de olhos e comentar? A vossa opinião é muito importante, principalmente a tua, porque tu pareces saber muito bem como escrever histórias! :p Bjs!