sexta-feira, 22 de julho de 2011

(...)

E lá fui eu. Lá sai eu de minha cama para me ir juntar a quem mais em ouvia. Saindo quando todos entravam, percorri as ruas, naquele momento, desertas para me encontrar com ninguém. Andei alguns metros, senão mesmo quilómetros. Parei num banco de jardim, tapado por uma árvore enorme e antiga. Subi para o assento do banco, de pé. De seguida, equilibrei-me no encosto para as costas e trepei para um pequeno ramo da árvore, e depois para outro e para outro para depois chegar a um forte e grande ramo. Sentei-me nele. Encostei-me ao tronco da árvore, de joelhos junto ao peito. Fechei os olhos e escutei. Escutei o que ela, a árvore, tinha para me dizer. Então ela segredou-me “Há anos e anos atrás, nesse mesmo ramo onde tu te encontras, sentava-se uma donzela que, para se esconder do seu Marido que tanto lhe batia e massacrava, trepava para mim. E eu acolhia-a assim como estou a fazer agora com o teu ser, dava-lhe o sentimento de protecção que ela mais necessitava para viver” contava a velha árvore, embalando-me naquela brisa que se formava no ar. “Certo dia, o seu marido, desconfiado que ela não cumpria as suas regras, decidiu esconder-se fora de casa e observá-la. E a mulher lá foi, contra as regras do seu homem, ter comigo, naquela altura nada mais do que uma simples árvore, do tamanho das outras.” Os meus olhos começavam a fechar-se lentamente. “Quando o homem descobriu que ela infringia suas regras, ficou furioso. Então a mulher, quando chegou a casa, encontrou o homem, sentado no banco de cinto na mão.” O meu coração deu um pulo ao ouvir esta última frase. De imediato abri os olhos e tornei-me atenta. “A mulher tentou arranjar uma desculpa por ter saído de casa, mas o homem sabia, sabia onde é que ela tinha ido. De imediato o homem dirigiu-se para ela, e começou a esmurrá-la. A pequena nem metade da força do homem tinha, portanto apenas gritou, implorou-lhe para que ele parasse mas ele não o fazia” Os meus olhos encheram-se de lágrimas ao ouvir aquele relato. “A mulher com medo, nunca mais saiu de casa. Então os seus vizinhos achando estranho este comportamento, decidiram juntar-se e ir até casa dela, quando o homem saísse. Meu dito, meu feito, nessa mesma noite, 5 homens bateram à porta de casa dela. A mulher, com medo que o marido descobrisse, nada fez. Mas os homens continuavam a insistir e a insistir e ela, a medo, acabou por abrir a porta. Quando o homem da frente a viu, naquele mísero estado, apenas a abraçou e ela, desabou num choro intenso. Logo houve alguém que lhe perguntou porque estava ela assim e ela, lavada em lágrimas, contou que saia quando o marido ia trabalhar, coisa que ele a tinha proibido e há umas noites tinha descoberto, e para a castigar tinha-lhe feito aquilo.” Eu estava mais atenta do que nunca, queria que o fim chegasse, e depressa. “Mal os homens chegaram a casa, relataram a história contada pela pobre mulher. Ficaram todos chocados, principalmente as mulheres. Acabaram por decidir então que se a mulher não respondia, faziam-no eles por ela. Então, certa noite, quando o homem saiu para trabalhar, foi surpreendido por um bando de pessoas. O que lhe fizeram? Ninguém sabe, mas todos dão a sua opinião. Os homens limitaram-se a levá-lo e depois de horas, traze-lo de volta para a porta de casa. A mulher, quando acordou de manhã, foi até à porta e, ao deparar-se com o homem naquele estado, imaginou-se a si, ali estendida no lugar do homem em vez deste mesmo. Rapidamente lembrou as noites de sofrimento e dor causadas por ele. Sabes o que fez ela?” sussurrou-me a árvore. Abanei com a cabeça, negativamente. “Arrastou para o quarto e deixou-o lá, como ele fazia com ela, deixou-o lá. A mulher? Apenas mudou de casa, fez as malas e foi-se embora.” Logo me perguntei se tinha ela descoberto quem tinham sido os responsáveis. A árvore deve ter escutado a minha pergunta, pois logo acrescentou num sussurro: “Antes de partir, a mulher falou aos homens daquela noite, agradecendo-lhes o facto de a terem libertado, de lhe terem dado forma de viver a vida. Depois, no seu caminho, passou por mim e sentou-se nos meus ramos para, uma última vez, sentir o sentimento de protecção que tantos anos lhe tinha dado. Quanto ao homem? Ninguém sabe se ele sobreviveu ou não mas a verdade é que também ninguém quis saber” No final daquela história os meus olhos estavam banhados em lágrimas.

2 comentários:

decembergirl disse...

Adoro as tuas histórias, tu tens imenso jeito para escrever *.* continua, vais longe!

Blue Girl disse...

obrigada, !