quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Herói de ontem, Herói de hoje, Herói de amanhã

É como quando és pequena, e tens aquele peluche. Tu sabes, sabes que tens medo. Do escuro. Do silêncio. Do aborrecimento. Aquela pequena coisa fofa que te servia de almofada nas grandes viagens. Aquele pela qual procuravas todas as noites, antes de dormires. E que, provavelmente, caía no chão a meio da noite. Esse ursinho, ou porquinho, ou ratinho, era o teu companheiro. Ia onde tu ias, fazia o que tu fazias. Ela era o teu porto de abrigo, não é verdade? No meio de um pesadelo, tu abraçava-lo, e os monstros no armário ou os de debaixo da tua cama, já não te faziam mal. Era ele que comparecia a todas as tuas 'festas', com quem tu falavas no final da escola, e até, às vezes, ele respondia. A meio da noite, se querias tinhas de enfrentar as divisões vazias, era ele que te acompanhava. Era, basicamente, o teu herói. Que te protegia e salva-guardava. Mas a verdade, é que tu cresceste, não foi? E apercebeste-te, que o escuro já não é o mesmo, o silêncio, igualmente. O aborrecimento mudou de formato. E a almofada que queres, já não é ele que ta fornece. Os tempos mudaram, não foi? Esse ursinho, ou porquinho, ou ratinho, está agora no fundo da cama ou numa prateleira, lá bem em cima. Agora passas, vais e vens, e ele fica-te a ver. A ir e a vir. Quando voltas da escola, já não é ele o primeiro a receber um bom-dia. Muito menos o primeiro a quem contas o teu dia. Muito provavelmente, já o fizeste com alguém. Honestamente, nem te apercebes disso. Não te apercebes o valor que o teu pequeno grande herói perdeu, em tão pouco tempo. A bem dizer, o teu herói já é, muito provavelmente, outro. Cresceste, e com isso, mudaste. As divisões vazias, agora são de outro tipo e quando as tens de enfrentar, não é ao teu ursinho, ou porquinho, ou ratinho, que vais pedir ajuda. Quando dás por ti, já não é por ele que procuras antes de dormir. As viagens? Essas mudaram, os caminhos são diferentes, atingiram proporções enormes e não levam somente umas horas a serem percorridos. Consequentemente, já não é aquele pequenino que vai contigo. O teu porto de abrigo mudou, tão rapidamente. É natural, normal, quando se cresce. Mas confessa, que à noite, quando tens aquele pesadelo, ainda é ele que te conforta. Confessa, que quando o escuro se torna tão sufocante, é ele, no fundo da tua cama, ou na prateleira alta que abraças. Porque apesar de viveres a tua vida, apesar de cresceres, apesar das coisas mudarem, há coisas que permanecem. E aquele ursinho, ou porquinho, ou ratinho, é a prova disso.

1 comentário:

ann disse...

adorei. nao podia estar mais certa de que é uma completa verdade, e acho que todos somos assim.