quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O mar é fiel - fim

Estou parada na água, que me chega até à cintura e me envolve num abraço gelado, porém, o meu corpo pouco se parece importar com o frio que lentamente se apodera de mim. 
Porque estou aqui? Não sei. Como vim aqui parar? Não me recordo. Também não importa. Na verdade, agora nada importa. Como, porquê, quando. São interrogações para as quais não existe espaço na minha cabeça. Agora, só um facto toma controlo da minha mente. Só uma verdade me move e só uma realidade me consome.
As ondas rebentam contra mim, colmando a camisola ao meu corpo, algo que dantes me daria estremecer e despi-la, mas que agora nem um simples olhar ganha. O mar está agitado, com ondas enormes e correntes fortes, como que numa revolta pelo que aconteceu. Entendo-o. Também eu, mais cedo, tinha estado assim. Mas agora não. Agora estou calma, consciente do que farei e de como o farei. Viro costas àquele frenesim de movimentos e sigo caminho para as rochas. Alguns surfistas aventuram-se mar a dentro, sem medo algum do tamanho que as ondas assumem. Ao vê-los, algumas lembranças assombram-me enquanto ando. Eu, sentada nesta mesma praia, a ver o Frederico deitado na prancha, para , momentos depois se levantar e deslizar na onda. Ou a fugir dos seus braços frios e molhados, quando ele decidia perseguir-me pelo areal fora. Lembro-me de como me sentia orgulhosa e feliz por poder dizer que aquele rapaz era o meu rapaz. Agora, apenas me traz lágrimas aos olhos, lágrimas essas que me esforço por não deixar cair. 
Chego aos rochedos e, inspirando profundamente, começo a trepar por ali acima. Ignoro a entrada da gruta, ignoro o que ela me diz e as memórias que me proporciona. Continuo a subir, cada vez mais alto, até chegar ao topo. Aqui, o vento tem maior intensidade, quase fazendo o meu corpo franzino perder o equilíbrio. Já aqui tinha estado, várias vezes com o Frederico, e nessas alturas, ele agarrava-me com força, como se tivesse medo que eu caísse. No entanto, neste momentos e daqui em diante, o abraço do Frederico não pode impedir que eu caia. Porque ele não está aqui. Porque ele não voltará a estar. 
Continuo a andar até chegar à beira do rochedo. Daqui consigo ver o mar debaixo de mim, contra as pedras, como um chicote movido pela fúria. Um chuva miudinha começa a cair e eu olho em frente. Não há luta de pensamentos ou sufoco de lágrimas. Apenas há imagens, a correm de um lado para o outro, o corpo do Frederico naquela maca, o dia em que o conheci, o funeral dele, a nossa primeira noite juntos, a dor de o perder, o amor incondicional. com estes pensamentos, dou alguns passos até que sinto apenas o ar debaixo dos pés.. E caio, para ir ter com o meu amor.

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