segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O mar é fiel 18*

- Vamos onde Frederico?
- Não sei, onde queres ir?
- Não sei..
Porque é verdade, não sei. Nunca saí da minha cidade, mais propriamente  da minha zona, pois até a minha cidade tinha sido pouco explorada por mim. Claro que tenho sítios onde desejo ir, como os Estados Unidos ou Austrália, mas como apenas temos um carro, não poderei ir, para já, a nenhum deles. É quase verão e tenho a certeza que uns dias, ou talvez semanas, fora é o que mais preciso depois deste ano. O Frederico, supostamente, ia trabalhar este verão, como sempre, mas certo dia, apareceu lá em casa com 'uma surpresa', como ele lhe chamou. 
- Sei que não é nada demais - disse, ao olhar para o carro estacionado à minha porta, que embora não fosse recente, também não era velho - mas pensei que pudéssemos escapar ao drama que se instalou durante um bocado, e um veículo talvez fosse uma boa ajuda..
Portanto, foi uma escolha fácil de fazer: preparar as coisas e partir. Para onde, isso era mais complicado. Pelo menos, para mim.
- É simples de escolher, então. 
Ele encosta à beira da estrada, pega no mapa e sai. Eu sigo-o e vejo-o abrir a folha pelo capô do carro. 
- Fecha os olhos Lua. 
- Porquê? - o que é que ele esta a fazer? Estamos no meio de nenhures, há carroças e tratores a passar de um lado para o outro. Que é que ele tinha em mente?
- Não confias em mim? - pergunta; os olhos dele brilham tanto quanto o sol por cima de nós, está feliz, tão feliz, pelo que decido fazer-lhe a vontade. Fecho os olhos e sinto as mãos dele enquanto me dirige não sei bem para aonde. Ele segura na minha mão e passa-a pelo papel. 
- Quando quiseres paras. É para esse sitio, debaixo do teu dedo, que vamos. 
Sorrio. É uma sensação de poder, mesmo que pena. E logo depois de sentir isto, sinto-me parva. O que me faz rir ainda mais. 
- O que é que tem piada?
- Nada, nada.
- Anda lá, despacha-te - consigo ouvir-lhe o sorriso na voz - queres acampar aqui é?
- Era uma boa ideia.
Oiço-o a rir e não aguento e riu-me também.
- Lua, escolhe lá o sítio, temos de ir.
- Quem espera sempre alcança, menino Frederico.
- Eu tenho fome Lua, portanto, tens de te despachar. 
Começo a demorar mais tempo de propósito. Gosto disto, gosto da sensação de tempo, gosto da sensação de liberdade. Sinto-me bem com isso.
- Aqui. É para aqui que vamos.
Ele olha para o ponto que assinalei.
- Boa escolha, gostei.
Abro os olhos.
- Não tens de gostar, tens de obedecer - e dirijo-lhe um sorriso de orelha a orelha.
- É? É?
- Não, Frederico..
Ele manda-me ao chão e senta-se em cima de mim.
- Sai daqui, deixa-me levantar - grito-lhe por entre risos.
- Pede por favor.
- Não, eu é que mando, sai, tu
- Só quando pedires por favor e é melhor despachares-te, as formigas adoraram o teu cabelo - diz, com um ar trocista.
- Ahh, não, Frederico, olha que eu choro, sai, sai.
- Chora, chora, agora pede por favor, anda.
- Não, nunca.
- Lua..
Suspiro.
- Deixa-me levantar.
- Se..
- Se faz favor - resmungo.
- Linda menina.
- Vais pagá-las.

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