Mas eis, que paras. Olhas para a frente, mas já não te podes mover. Tens
um abismo, à tua frente, tão grande, tão profundo, nem lhe vês o fim. Olhas
para trás, mas está tudo escuro. Tão escuro, não consegues vislumbrar nada através
de toda aquela negrura. Do teu lado esquerdo, do teu lado direito, é tudo
igual. Escuro, escuro, escuro. Sem fim que consigas notar. Vamos lá, pensa. Que
podes fazer, neste ponto, nesta situação? Arriscar no precipício? Talvez te
tenhas enganado, pode nem ser assim tão profundo, tão grande. Pegas numa pedra,
e atira-la para aquele imenso vazio. Está tão silêncio, que consegues ouvia-la
a cortar o ar, tão claramente. Enquanto cai, porém, o seu som vai-se
desvanecendo. E aos poucos, aquilo que era claro, torna-se indecifrável. Prestas
atenção, mas ela nunca mais cai, mais uma vez, aquele buraco, aquele abismo,
parece não ter fim.
Já te sentes com medo, não é? Então, pensei que tivesses coragem, pessoa
veloz. Pegas noutra e repetes o mesmo processo. Uma e outra e outra. Mas de
todas as vezes, é tudo igual: o som da pedra por entre o ar e depois ele a desvanecer-se,
até deixar de existir. O pânico está-se a formar, não é? Olhas em volta,
procurando uma saída, mas não há saída. Ou o escuro, ou o abismo. Lá ao fundo,
não sabes muito bem onde, ouves o primeiro som, naquele imenso espaço deserto.
Mas não é propriamente um som alegre. É daqueles de criar arrepios pela espinha
abaixo, aqueles que tornam o coração pequenino, aqueles que nos fazem pensar em
todo o tipo de cenários que não julgávamos algum dia pensar.
O terror, já é grande. Vamos lá, pensa, o tempo é escasso, tens de
escolher um caminho. Pensas no abismo. Talvez, se uma árvore caísse e servisse
de ponte, conseguisses atravessa-lo. Seria uma hipótese, e bem viável. No outro
lado, não há nevoeiro. Há um espaço aberto, que parece que chama por ti, que diz
o teu nome. Ali, porém, não há árvores caídas, nem em vias de cair. E tu, até
podes ser forte, mas a força não te chega para mandares uma árvore abaixo. A lua
move-se, lá alto no céu. O tempo está a passar, rápido, precisas de agir, tomar
uma decisão.
Optas, então, por voltar por onde vieste. Apesar de não se ver nada,
apesar de não conseguires entender onde podes ou não por os pés, optas por
seguir por ali. Vamos, então. Está a ficar frio, e tu estás a senti-lo. Consigo
ver isso. Apertas os braços em volta ao corpo, a tua roupa já não é suficiente
para manter a temperatura do teu corpo. Não esperavas uma corrida tão demorada,
pois não? Mas vá, não está a ir mal. Mesmo com nevoeiro, ainda não caíste.
Penso que seja bom, o teu sentido de orientação não é assim tão mau quanto
aparentavas.
Porém, quanto mais te embrenhas nesta floresta, ou bosque, ou caminho, o
nevoeiro torna-se mais espesso. Tão espesso que mal consegues ver o fumo criado
pela tua respiração, tão espesso que nem os teus pés consegues ver. Começas a
chorar. Queres voltar para casa, não é? Estar perdido, simplesmente não é algo
para ti. Estás gelado, cansado, com fome e sede. Já nem sabes por onde vieste.
Cais no chão, controlado pelo medo, pelo choro. Não há saída, e tu sabe-lo.
Ao ergueres o olhar, vez um criatura. Ela não é linda. Não é daquelas que
nos descrevem nos contos, aquelas que nos salvam ou ajudam. É uma criatura que
nos arrepia e que torna o nosso coração, ainda mais pequenino.
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