segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Tu corres

E tu corres. Corres como porque te ensinaram assim. Corres porque o sangue nas tuas veias implora por isso, corres porque as tuas pernas não conseguem parar. Por isso, tu corres. Com uma intensidade surpreendente, com uma velocidade espantosa. Mas a verdade, é que tu corres. Como se nada te fosse parar. Como se nada te fosse travar neste caminho. Progrides, avanças sempre a correr, sempre. Ultrapassas os obstáculos, é fácil para ti. Vais lançado/a. É simples, saltar quando é uma árvore caída, desviares-te quando é uma rocha no meio do chão, manter o equilíbrio nas poças de lama. É tão simples, para ti. Continuas a correr. Porque nada te impede disso. Se alguém te faz uma rasteira, limitaste a afastar-te e a seguir caminho. Sempre rápido, sempre veloz.
Mas eis, que paras. Olhas para a frente, mas já não te podes mover. Tens um abismo, à tua frente, tão grande, tão profundo, nem lhe vês o fim. Olhas para trás, mas está tudo escuro. Tão escuro, não consegues vislumbrar nada através de toda aquela negrura. Do teu lado esquerdo, do teu lado direito, é tudo igual. Escuro, escuro, escuro. Sem fim que consigas notar. Vamos lá, pensa. Que podes fazer, neste ponto, nesta situação? Arriscar no precipício? Talvez te tenhas enganado, pode nem ser assim tão profundo, tão grande. Pegas numa pedra, e atira-la para aquele imenso vazio. Está tão silêncio, que consegues ouvia-la a cortar o ar, tão claramente. Enquanto cai, porém, o seu som vai-se desvanecendo. E aos poucos, aquilo que era claro, torna-se indecifrável. Prestas atenção, mas ela nunca mais cai, mais uma vez, aquele buraco, aquele abismo, parece não ter fim.
Já te sentes com medo, não é? Então, pensei que tivesses coragem, pessoa veloz. Pegas noutra e repetes o mesmo processo. Uma e outra e outra. Mas de todas as vezes, é tudo igual: o som da pedra por entre o ar e depois ele a desvanecer-se, até deixar de existir. O pânico está-se a formar, não é? Olhas em volta, procurando uma saída, mas não há saída. Ou o escuro, ou o abismo. Lá ao fundo, não sabes muito bem onde, ouves o primeiro som, naquele imenso espaço deserto. Mas não é propriamente um som alegre. É daqueles de criar arrepios pela espinha abaixo, aqueles que tornam o coração pequenino, aqueles que nos fazem pensar em todo o tipo de cenários que não julgávamos algum dia pensar.
O terror, já é grande. Vamos lá, pensa, o tempo é escasso, tens de escolher um caminho. Pensas no abismo. Talvez, se uma árvore caísse e servisse de ponte, conseguisses atravessa-lo. Seria uma hipótese, e bem viável. No outro lado, não há nevoeiro. Há um espaço aberto, que parece que chama por ti, que diz o teu nome. Ali, porém, não há árvores caídas, nem em vias de cair. E tu, até podes ser forte, mas a força não te chega para mandares uma árvore abaixo. A lua move-se, lá alto no céu. O tempo está a passar, rápido, precisas de agir, tomar uma decisão.
Optas, então, por voltar por onde vieste. Apesar de não se ver nada, apesar de não conseguires entender onde podes ou não por os pés, optas por seguir por ali. Vamos, então. Está a ficar frio, e tu estás a senti-lo. Consigo ver isso. Apertas os braços em volta ao corpo, a tua roupa já não é suficiente para manter a temperatura do teu corpo. Não esperavas uma corrida tão demorada, pois não? Mas vá, não está a ir mal. Mesmo com nevoeiro, ainda não caíste. Penso que seja bom, o teu sentido de orientação não é assim tão mau quanto aparentavas.
Porém, quanto mais te embrenhas nesta floresta, ou bosque, ou caminho, o nevoeiro torna-se mais espesso. Tão espesso que mal consegues ver o fumo criado pela tua respiração, tão espesso que nem os teus pés consegues ver. Começas a chorar. Queres voltar para casa, não é? Estar perdido, simplesmente não é algo para ti. Estás gelado, cansado, com fome e sede. Já nem sabes por onde vieste. Cais no chão, controlado pelo medo, pelo choro. Não há saída, e tu sabe-lo.
Ao ergueres o olhar, vez um criatura. Ela não é linda. Não é daquelas que nos descrevem nos contos, aquelas que nos salvam ou ajudam. É uma criatura que nos arrepia e que torna o nosso coração, ainda mais pequenino.

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