segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Puzzle

Era um puzzle. E era tão belo. Cada peça no seu lugar, cada traço completando o outro. Era pequeno ao início, eram peças básicas, muito básicas, certas linhas, certos pontos, mas tudo incerto, era tudo um esboço do que estaria para vir. A medida que o construíam, foi-se transformando em algo mais complexo. Algo mais do que simples peças, linhas ou pontos. As linhas transformavam-se agora retas, bem definidas, bem traçadas. Ângulos bem estruturados. Os pontos eram visíveis, cruciais neste empreendimento. Era algo imprevisível, e as peças jogavam umas com as outras. Fazendo imagens, criando emblemas. Construindo diálogos. Do nada apareciam mais pedaços, cada um diferente do anterior, cada um com um sítio próprio, cada um com o seu significado. Era, não, é um puzzle. Um puzzle difícil de entender, para muitos, até indecifrável. E o seu criador tem de ser astuto. Muito mesmo. Porque criar um puzzle não é tão fácil com parece. Não é só juntar peças, mas sim juntá-las de forma correta. Juntá-las de modo a que encaixem umas nas outras, de modo a que façam sentido, não são juntá-las para as despachar. E juntá-la corretamente requer tempo. Um tempo indefinido, mas que é um tempo. E quando se repara, desaparece uma peça. Procura-se por ela por todo o lado. Debaixo da mesa, talvez tenha caído. Atrás do sofá, talvez alguém tivesse passado e a tivesse empurrado para lá. Procuramos no quarto, talvez nós a tenhamos levado para lá e nem nos lembramos. Mas não. Essa peça desapareceu. Como se nunca tivesse existido à face da terra. Mas aquele lugar vazio no puzzle diz-nos o contrário. E então, o seu criador tenta desesperadamente remendar aquele buraco, aquele lugar vazio. Mas não consegue. Não há mais nenhuma peça como aquela. E ele fica à espera que ela aparece. E aparecem, aparecem muitas. Mas nenhuma com aquele tamanho, com aquele formato. E por mais tempo que passe, nenhuma peça volta a ser com aquela que foi perdida. E aquele lugar fica vazio. À sua volta, outras peças vão formando outras imagens, as linhas unem-se, os pontos seguem-se e as fotografias aparecem. E depois, outra peça desaparece. Outra vez. E outra vez. Aqui e ali, o nosso pequeno grande puzzle tem buracos, vazios contra a grandeza daquelas imagens. Isto, porém, não muda o facto de ser um puzzle lindo. É, apenas, incompleto. 

1 comentário:

Margaret disse...

tens muito jeito com as palavras, gosto muito!