quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Chuva

A chuva é tão calma, tão tranquila, tão pura. Ela limita-se a cair, só a cair, unicamente a cair. Acalma-me tanto, andar à chuva, há tanto silêncio. Sem pessoas, a falar. Sem gritos. Sem berros. Só as pequenas gotas a caírem no passeio, umas atrás das outras. É um som tão bom. Daqueles que nos faz desejar mais. Daqueles que nos abre o espírito. Que nos faz lembrar de coisas que já há muito que tínhamos esquecido, coisas do passado. Que nos faz chorar, por essas mesmas coisas.  E chorar à chuva, é das melhores coisas que somos livres de fazer. Permite-nos pensar, para além daquilo que julgamos ser possível. Faz-nos ir mais além. Muito mais além. Sentir o cabelo a ficar molhado, aos poucos, ver a água a escorrer, tão devagar, como se não quisesse atingir o passeio. Pisar as poças de água, como se tivéssemos outra vez cinco anos, sem nos preocupar-mos com constipações ou doenças. Sabe tão bem, aquele cheiro a relva molhada pela chuva, aquela cheiro a terra húmida, que nos enche os pulmões. Não há carros, nas estradas já correm rios com a água toda que cai e ninguém quer arriscar um acidente. Sento-me ali mesmo, no meio daquilo tudo, a travar aquela ribeira que escorre, fico ainda mais molhada, encharcada até aos ossos, mas estar ali, é tudo o que quero. É dos melhores dias que há, os de chuva. Deito-me no alcatrão inundado, enquanto a chuva continua a cair, sem medo, sem qualquer tipo de medo.